Economia e mercado

Cazaquistão no centro do conflito

Visão Geral 

Como protestos de cidadãos insatisfeitos com o preço dos combustíveis pode se tornar um grave problema geopolítico e afetar a cotação da moeda brasileira?

Os eventos registrados no Cazaquistão já parecem estar sob relativo controle, mas seus efeitos sobre a cadeia de petróleo e a inflação podem trazer ainda mais pressão aos bancos centrais da Europa e dos Estados Unidos.

Acompanhe nossa análise a seguir.

O que está acontecendo no Cazaquistão 

O mercado começou a semana de olho nos desdobramentos da situação política e econômica do Cazaquistão.

Protestos violentos assolaram o país depois que o governo decidiu aumentar o preço do Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), presente nos botijões de cozinha no Brasil, mas muito utilizado como combustível veicular no país asiático.

E mesmo depois de o governo local recuar e revogar o aumento anunciado dias antes, os protestos continuaram e ganharam contornos ainda mais violentos.

O que antes era uma reclamação acerca dos preços dos combustíveis passou a ser uma demanda popular contra o poder do ex-presidente Nursultan Nazarbayev. 

Os cidadãos cazaques reclamam do poder que ainda é exercido por Nazarbayev, mesmo tendo renunciado em março de 2019 depois de ter ficado no poder por 29 anos.

Os violentos protestos já somam mais de 160 mortos, incluindo membros da polícia local.

O atual presidente cazaque, Kassym-Jomart Tokayev, declarou estado de emergência e toque de recolher no país. Além disso, pediu ajuda ao presidente da Armênia, Armen Sarkissiam e ao presidente russo, Vladimir Putin.

A Rússia já enviou cerca de 2.500 soldados para ajudar a controlar a situação na capital do país, Nursultan e em Almaty, a cidade mais populosa do Cazaquistão.

Para complicar ainda mais a situação, o governo já emitiu declarações públicas dizendo que parte dos manifestantes são terroristas e foram treinados fora do país, mesmo discurso feito pelo presidente russo.

Além das mortes e da violência, o grande problema no Cazaquistão é que o país é um fornecedor estratégico de petróleo para a Europa.

O impacto sobre os preços do petróleo

O Cazaquistão é o 9º maior país do mundo e o maior Estado sem costa litorânea, mas apesar de não ter acesso ao mar é inegável a importância cazaque na geopolítica da região.

Em primeiro lugar, é importante destacar que o maior país da Ásia Central é também o maior produtor de GLP da região. Mais importante que isso, é o segundo maior fornecedor de petróleo da Europa, atrás apenas do Iraque.

Apesar de produzir “apenas” 1,6 milhão de barris de petróleo todos os dias, o que é aproximadamente a metade do que é produzido pelo Brasil, cerca de 9% de todo o petróleo importado pelos europeus vem do Cazaquistão.

O segundo ponto importante em relação a estes acontecimentos é o impacto na geopolítica local.

Ao aproximar-se militarmente do Cazaquistão, Putin intensifica ainda mais as tensões com o Ocidente.

A relação com Joe Biden já não era boa desde que o mandatário russo passou a reclamar publicamente do avanço da Organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAN sobre o leste europeu.

As disputas envolvendo partes do território ucraniano e o próprio interesse da Ucrânia em integrar a OTAN e a União Europeia têm tornado rotineiro os exercícios militares na região.

E deste grande jogo político o que nos interessa saber aqui é que tudo isso tende a desembocar em mais aumento no preço do barril de petróleo, afinal de contas a Rússia é o segundo maior produtor de petróleo do planeta e o principal fornecedor de gás natural para os países europeus.

Na primeira semana do ano, as tensões em território cazaque levaram a cotação do petróleo WTI às máximas em quase quatro anos.

Como o petróleo tem sido um dos principais culpados pela inflação global, conflitos que diminuam a oferta da commodity podem trazer ainda mais aumentos nos preços aos consumidores.

A Zona do Euro encerrou 2021 com uma inflação de 5%, a mais alta em toda a série histórica. Se olharmos para a variação anual apenas dos bens e serviços ligados à energia, dos quais destacam-se os derivados de petróleo, a variação foi de assustadores 26%.

Reflexo sobre o câmbio

Aqui entram os impactos dos protestos em Almaty sobre o câmbio.

O petróleo WTI caía cerca de 0,7% no momento em que este texto estava sendo escrito, o que nos sugere alguma acomodação depois de forte elevação vista ao final da primeira semana do ano.

Apesar da queda registrada na segunda-feira (10) não podemos subestimar ainda os impactos sobre a cotação da commodity.

Em agosto do ano passado, a destruição causada pelo furacão Ida foi subestimada e o setor petrolífero do Golfo do México teve dificuldade em voltar ao nível produtivo visto antes da passagem do furacão.

A destruição de máquinas, equipamentos e plataformas de petróleo colaborou com o aumento nos preços do petróleo ao longo de 2021, o que potencialmente pode acontecer a partir dos protestos registrados na Ásia.

Além disso, apesar de ser difícil espelhar os acontecimentos vistos no Cazaquistão para os países vizinhos, cuja maioria é composta por importantes produtores e exportadores de petróleo, é possível que a inflação elevada e o aumento das tensões políticas criem o ambiente ideal para novos protestos na região.

Ao fim e ao cabo, se os protestos dos cidadãos cazaques trouxerem impactos duradouros sobre a indústria petrolífera local e, caso essa insatisfação cruze a fronteira para outros países, é de se esperar aumentos robustos nos preços do petróleo e, consequentemente, da inflação.

O aumento da inflação deve trazer respostas contundentes dos bancos centrais dos países desenvolvidos, como já é esperado nos Estados Unidos e na Europa.

Essas respostas, aumento nos juros, podem produzir novas e fortes desvalorizações das moedas de países como o Brasil.

Agora é esperar para ver o impacto dos protestos cazaques sobre o petróleo, a inflação e o câmbio.

Seguimos de olho.

André Galhardo

Economista-chefe da Análise Econômica, professor e coordenador universitário nos cursos de Ciências Econômicas. Mestre em Economia Política pela PUC-SP, possui ampla experiência em análise de conjuntura econômica nacional e internacional, e é autor do livro “O Salto do Sapo: a difícil corrida brasileira rumo ao desenvolvimento econômico.”

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