2021 será o ano da retomada econômica?

A pandemia do novo coronavírus deixou um rastro de mortes e destruição como poucos de nós pudemos acompanhar ao longo das últimas décadas. Além do volume de pessoas que perderam a vida em decorrência da covid-19, de longe o maior dos nossos problemas, o vírus também trouxe destruição econômica.

O Brasil registrou queda de 4,1% no produto interno bruto no ano passado. É a maior contração econômica em um único ano desde 1990, quando a economia reagiu muito mal aos planos econômicos propostos pelo então presidente Fernando Collor. Naquele ano a economia brasileira contraiu cerca de 4,3%.

Diante de tamanha contração econômica é natural que a população anseie por uma importante retomada neste ano, de modo que ao menos, ao final de 2021 estejamos no nível de 2019.

Apesar da possibilidade, é muito improvável que esse tipo de retomada ocorra e os motivos dessa retomada ser pouco factível estão listados abaixo.

Acompanhe nossa análise a seguir.

O que apontam os principais indicadores econômicos

São poucos os dados de atividade econômica referentes ao ano de 2021 disponíveis até o começo de março. Apesar da escassez de indicadores, já é possível fazer algumas análises e nós vamos começar pelos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Segundo o IBGE, o setor de serviços, que responde por cerca de 70% do PIB brasileiro, avançou cerca de 0,6% no mês de janeiro. Apesar da expansão mensal, trata-se de uma variação bastante tímida, uma vez que não houve variação entre as leituras de novembro e dezembro. Além disso, na comparação com janeiro de 2020, houve contração de 4,7%.

Outro indicador divulgado pelo IBGE, a produção física da indústria nacional, apontou avanço apenas marginal no mês de janeiro. Na comparação com o mês de dezembro, a indústria geral cresceu 0,4%, enquanto que na comparação com igual mês do ano passado houve avanço de 2%.

É importante destacar apenas que o crescimento marginal visto em janeiro deste ano foi sustentado pelo bom desempenho das indústrias extrativas, uma vez que as indústrias de transformação recuaram 0,1% na comparação com o mês de de dezembro.

Outros indicadores importantes, que não tratam de atividade econômica mas servem como importantes boas proxies do nível de atividade econômica, são os indicadores de confiança.

Segundo o Instituto Brasileiro de Economia (IBRE), o índice de confiança do setor de serviços caiu ao menor nível desde julho do ano passado na última leitura, feita em fevereiro. O índice de confiança da indústria de transformação também vem de duas importantes quedas mensais e em fevereiro alcançou o menor nível desde setembro passado.

Além disso, o índice de confiança do consumidor em fevereiro encontrava-se em nível mais baixo que dezembro do ano passado, a despeito do avanço em relação a janeiro.

Todos estes indicadores associados a ausência do auxílio emergencial e aumento do número de casos e mortes por covid-19 reforçam que a retomada econômica não virá neste primeiro trimestre. Já discute-se a possibilidade de crescimento mais nítido apenas no segundo semestre deste ano, se vier.

Uma possível mudança na política monetária

Além de alguns números que indicam estabilidade ou até mesmo declínio da atividade econômica no primeiro trimestre, um outro problema acaba de entrar no radar do governo e de investidores.

A aprovação do pacote de estímulo americano no valor de US$ 1,9 trilhão e as reiteradas falas do presidente do Federal Reserve de que a taxa de juro norte americano deve ficar no atual patamar de 0% ao menos até setembro de 2023, têm pressionado o rendimento de títulos públicos de longo prazo.

Em outras palavras, a condescendência da autoridade monetária com o aumento do índice de preços pode pressionar a inflação no curto prazo e fazer o banco central americano agir mais rapidamente do que esperam seu presidente e seus demais diretores.

Do outro lado do mundo, a economia chinesa parece ter acelerado muito rapidamente, o que também pode estar exercendo alguma pressão sobre o índice de preços ao consumidor. Esse avanço nos preços, atualmente mais represado no nível de matérias-primas e insumos básicos, pode reverberar para os consumidores e fazer o Banco Popular da China agir aumentando a taxa de juros.

Esses dois movimentos, da China e dos Estados Unidos, poderiam abreviar a decisão do Banco Central brasileiro em aumentar a taxa básica de juros, o que poderia contribuir, em alguma medida, com a diminuição da atividade econômica e, sem dúvida, com o aumento do endividamento público.

As disputas políticas e o impacto no câmbio

Os últimos desdobramentos políticos em âmbito doméstico serviram para mostrar o que nós já tínhamos visto em diversas oportunidades, a exposição internacional do Brasil.

Sem entrar na questão do mérito do STF e da decisão que poderia beneficiar o ex-presidente Lula, o que nos interessa avaliar aqui é como isso afeta o câmbio e as nossas vidas.

A decisão de Edson Fachin, um dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), fez com que a moeda brasileira perdesse cerca de 3,25% do seu valor em um único dia. Logo, o quadro de desvalorização cambial que já era visto desde o começo do ano, ficou ainda mais agudo, o que pode trazer problemas ao país até o meio do ano.

Um dos fatores que explica o aumento de preços visto desde o segundo semestre do ano passado é a desvalorização cambial. Uma parcela importante da inflação pode ser explicada pela desvalorização crônica e aguda da moeda brasileira nos últimos anos.

Ora, se a alta da inflação está relacionada com a desvalorização cambial e com os desdobramentos políticos e este último deve trazer ainda mais volatilidade cambial nos próximos meses, logo, é seguro dizer que poderemos encontrar problemas com a inflação à frente.

No atual cenário, sem projetar mais episódios de fortes aumentos no preço do dólar, a inflação romperá o teto da meta de inflação daqui a dois meses, no máximo.

Prognóstico

Dito de outra forma, e de maneira bastante reduzida, os primeiros indicadores econômicos referentes a 2021 mostram que o principal setor da economia apresentou crescimento anêmico em janeiro. Na indústria a situação também é, no mínimo, desconfortável e os níveis de confiança mostram que do ponto de vista econômico, o primeiro semestre já era.

Os embates políticos devem produzir mais instabilidades ao câmbio real x dólar, de modo que a inflação passa a ser olhada com desconfiança pela autoridade monetária brasileira, afinal de contas o teto da meta será rompido pela primeira vez desde o governo Dilma Rousseff.

O presidente brasileiro não deixará de agir para evitar que esse quadro de ausência de tração econômica perdure até o final do ano. Isso implica dizer que para anular os problemas políticos o governo pode ser mais condescendente com a degradação do quadro fiscal nestes últimos dois anos de mandato.

Além de tudo isso, se nós tirarmos do radar os problemas políticos e todos os outros elementos que trazem volatilidade e desvalorização do câmbio brasileiro, é importante lembrar que uma retomada econômica contará com um dos mais altos níveis de desemprego e de uma consequente compressão da massa salarial. É um desafio e tanto.

Voltando ao cenário em que consideramos todos os componentes, a eventual permanência da degradação do quadro fiscal também contribuiria para uma real mais fraco e consequentemente com nível mais elevado de inflação. Ou o Banco Central atua para diminuir a volatilidade cambial ou o céu será o limite para o valor do dólar.

Veremos.

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