Antonio Corrêa de Lacerda analisa produção industrial no Brasil

Antonio Corrêa de Lacerda, Ex-presidente do Conselho Federal de Economia e coordenador do Programa de Pós-graduação em Economia da PUC São Paulo, é o convidado do episódio 16 do De Olho no Câmbio.

Nesta conversa, o economista comenta sobre a estagnação da produção industrial e como destravar o crescimento e o fortalecimento da economia brasileira.

Confira o resumo desta conversa!

Qual sua leitura sobre a taxa de juros atual?

De acordo com o Professor Antonio Corrêa de Lacerda, a nossa taxa de juros está superestimada. Para se ter uma ideia, se nós retrocedermos 12 meses, encontramos a taxa selic em 13,75%, mesmo nível ao qual acabou de ser rebaixada, e a inflação acumulada na ocasião era de 12% ao ano.

Em julho deste ano, a Selic estava em 13,75%, portanto estável em 12 meses, mas a inflação acumulada havia caído para 3%. Mesmo se pegarmos a projeção da inflação de 4 ou 4,5% talvez, temos uma gordura imensa. O Brasil, de longe, há muito tempo, tem a taxa de juros mais alta do mundo, portanto, tem um espaço enorme para reduzir juros. Então, segundo Lacerda, podemos intensificar, sem riscos, a diminuição da taxa de juros em um ritmo mais acelerado do que vem sendo veiculado, pois existe um espaço enorme para reduzir a taxa de juros. 

A indústria está estável ou estagnada?

Na opinião do Professor Antonio Corrêa de Lacerda, a indústria está estagnada e este cenário já dura 10 anos. O nível da produção industrial médio é equivalente a 10 anos atrás. 

Ainda que tenha havido um pequeno crescimento do PIB e do consumo, houve um processo de desindustrialização. A indústria se apequenou dentro da estrutura econômica brasileira e quem abasteceu esse crescimento do consumo foram as importações.

Nós tivemos uma deterioração precoce do setor industrial. Alguns colegas economistas mais liberais tratam isso como um fenômeno natural e internacional, porém, Lacerda não concorda. Para ele, é um equívoco dizer que todos os países estão se desindustrializando. Nos países mais maduros ocorre uma perda da indústria em relação ao setor de serviços, por exemplo, mas no caso brasileiro, o país ainda não atingiu um nível médio de renda que lhe permita fazer essa restrição e é uma substituição de produção local por importações de uma forma anticompetitiva, pois estamos abrindo mão de impostos, empregos, tecnologia e valor agregado em prol de importações que não agregam em nada no país. Por isso, também não é um fenômeno natural, é causado por distorções nos fatores de competitividade sistêmica (aqueles que estão fora da empresa) e também internos, de proatividade. 

Estratégias para a indústria brasileira voltar a crescer

De acordo com Antonio Corrêa de Lacerda, um dos pontos principais para a indústria voltar a crescer é a questão cambial, pois este é um dos principais preços da economia.

O professor atribuiu a recente valorização do Real a fatores meramente conjunturais e acredita que, em breve, teremos um equilíbrio e que um desafio tão grande quanto evitar a valorização excessiva do Real esteja para o Banco Central evitar a excessiva volatilidade, que dificulta o cálculo econômico e as decisões, de forma que o câmbio não venha a ser um problema para essa reindustrialização. 

Lacerda cita que acredita que é possível acontecer a reindustrialização no Brasil por dois motivos:

Ordem Doméstica

A diferença básica do governo atual Lula 3 relativamente aos governos Bolsonaro e Temer é o fim da estadofobia ou a visão de que o estado mínimo é a solução. Então o estado do governo atual volta a ter papel fundamental, saímos da estadofobia, mas não vamos à estatolatria, a ideia de que o Estado é a panaceia, mas o papel do Estado é insubstituível na economia moderna.

Então a reorganização dos ministérios e a recriação do Ministério da Indústria e Comércio, parece o passo básico para quem pretende se reindustrializar. Com isso, se recriou também o Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial, que é um importante interlocutor com a sociedade, as associações empresariais, a academia, etc., e que definiu um conjunto de missões dentro da moderna abordagem de política industrial mundo afora. E dentre essas missões estão lá qualificadas, por exemplo, saúde, transição energética, digitalização, esses princípios nortearão a política industrial, serão muito importantes nesse processo. 

Ordem Internacional

Ocorre na geoeconomia política internacional, ou seja, numa oposição à trajetória de globalização que se intensificou no final do século XX e prevaleceu no século XXI até a crise de 2008, mas mais intensamente com a pandemia e agora com a guerra entre Rússia e Ucrânia, é uma revisão dos conceitos.

Enquanto a globalização terceirizava a produção para os demais países tendo em vista, principalmente o fator custo, com os novos pré-requisitos, o que leva em conta é a proximidade e a segurança de fornecimento. Vários países experimentaram a seguinte dificuldade diante da pandemia e da guerra entre Rússia e Ucrânia: independente de ter recursos para importar e, muitas vezes realizando o pagamento, esses fornecimentos não foram realizados, seja por paralisação da produção, questões logísticas, etc. Então as cadeias produtivas internacionais estão repensando seus conceitos de localização produzindo aquilo que tem se chamado na literatura internacional de nearshore, ou seja, a proximidade e a segurança de fornecimento. 

Isso é uma oportunidade para o Brasil pois, a despeito da desindustrialização, tem um DNA industrial pela grande transição que foi feita da agricultura para indústria no século XX e também pelo seu potencial de mercado, o efeito escala e o efeito escopo. No entanto, isso não será automático. Essas oportunidades só se transformarão em termos práticos na realidade se nós adotarmos políticas macroeconômicas e políticas de competitividade, leia-se política industrial, política comercial e política de inovação, que induza esse processo de industrialização.

Então é uma neo-industrialização, como tem sido falado, que leva em conta não só os parâmetros tradicionais, como também a transição energética, a descarbonização e a economia digital. Lacerda acredita que esse é o grande potencial que se apresenta, sem esquecer o lado da inclusão social e também o complexo industrial da saúde, que é um importante indutor da reindustrialização.

Ainda não conhece o De Olho no Câmbio?

De Olho no Câmbio é um conteúdo jornalístico produzido pela Remessa Online e sua transmissão ao vivo acontece semanalmente no canal do YouTube da Remessa Online.

Cada programa tem 1 hora de duração e aborda notícias do mercado de forma descomplicada, além de analisar temas da agenda econômica que podem influenciar as cotações das moedas estrangeiras como dólar, euro e libra esterlina ao longo da semana.

Apresentado pelos jornalistas Sidney Rezende e Rui Gonçalves e com comentários do Economista André Galhardo, o programa tem a participação de convidados renomados no mercado para enriquecer a discussão e está aberto à participação do público pelo chat.

A cada semana, os espectadores têm a oportunidade de compreender mais a fundo sobre o mercado e ficar por dentro de assuntos como câmbio, economia, investimento, Comércio Exterior, turismo e negócios.

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O que é produção industrial?

A produção industrial engloba um conjunto de procedimentos e ações que têm como objetivo transformar matérias-primas em produtos finais através da realização de operações de fabricação, montagem, processamento e integração de componentes.

Como a indústria brasileira voltará a crescer?

O crescimento da indústria brasileira é um desafio complexo que envolve diversos fatores econômicos, sociais e políticos. De acordo com o Professor Antonio Corrêa de Lacerda, é possível acontecer a reindustrialização no Brasil por meio da ordem doméstica e ordem internacional.

O que é o De Olho no Câmbio?

O De Olho no Câmbio é um programa jornalístico produzido pela Remessa Online para descomplicar notícias do mercado de economia, câmbio, negócios e muito mais.

Onde e quando o De Olho no Câmbio é transmitido?

O programa é transmitido ao vivo toda terça-feira, às 17h30, no canal do YouTube da Remessa Online.

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