Epidemia gera desaceleração econômica de longo prazo

O coronavírus segue gerando preocupações entre as pessoas, bastante caos em diversos países, reflexos preocupantes nos mercados financeiros e nas economias, com vários sinais de desaceleração econômica.

Por outro lado, olhando especificamente para o Brasil, as tensões entre Executivo e Legislativo – que remontam o início do mandato do atual governo – geram grandes preocupações acerca dos desdobramentos sobre o orçamento público (no curto prazo), o crescimento econômico (no médio prazo) e a dívida pública (no longo prazo). 

Acompanhe!

O avanço do Coronavírus

No final de janeiro publicamos uma análise sobre o impacto do coronavírus àquela altura. Na ocasião, a situação já era preocupante. Um mês se passou e a situação se agravou, com reflexos profundos sobre o mercado e as perspectivas para a economia.

Das diversas suspeitas, passamos para mais de 85 mil pessoas infectadas pelo vírus em, pelo menos, 50 países com casos confirmados da doença. Inclusive no Brasil, cujo caso foi confirmado na quarta-feira, 26 de fevereiro. 

A situação mais delicada é a da Itália, que tem o maior número de casos de coronavírus na Europa, com mais de 400 infectados e 12 mortes registradas. Cabe destacar que todas as pessoas que vieram a óbito eram idosas, que registraram quadros clínicos muito comprometidos por outras doenças.

Risco de desaceleração econômica no mundo?

E, além do aspecto sanitários e sociais, o vírus impacta diretamente a economia. O principal receio permanece o de desaceleração econômica, em primeiro lugar, e, como consequência dessas expectativas, a depreciação dos ativos. 

Como apontamos outrora, em outras palavras, com receio de que a epidemia afete mais pessoas e exija esforços de governos para conter a doença, investidores se antecipam e colocam seus recursos em investimentos seguros, causando um movimento forte de desvalorização de moedas emergentes, por exemplo.

A Itália, novamente, é um caso significativo. A situação deteriorou rapidamente no país. É importante observar que a economia italiana já passa por dificuldades há anos, tanto políticas quanto econômicas. O coronavírus, portanto, alavancou essa situação. 

Mas não para por aí. No final de janeiro, autoridades e especialistas já consideravam a possibilidade de forte desaceleração econômica nos próximos meses. Com o avanço do vírus, podemos começar a falar com alguma segurança em recessão.

Quais os reflexos no Brasil?

O caso confirmado aqui no país, curiosamente, veio de um brasileiro, com 61 anos, que visitou a Itália recentemente. Trata-se do primeiro caso no país e em toda a América Latina. De todo modo, a situação no coloca para pensar sobre a conjuntura brasileira nesse contexto.

É notório que nossa economia não está 100%. Crescemos 1% ao ano nos últimos três anos. É um ritmo pífio para um país com mais de 200 milhões de habitantes e que produz mais de R$ 7 trilhões por ano. 

Contudo, devemos lembrar a posição do Brasil no sistema internacional e nas cadeias globais de valor. O país é um dos maiores fornecedores de matérias-primas do mundo, garantindo-o uma posição menos “privilegiada” dentro das cadeias de valor das grandes empresas. 

Desse modo, uma situação como a atual tende a depreciar ainda mais a economia. Em termos práticos, China e Europa são grandes compradores de commodities brasileiras. A partir do momento em que empresas e governos dessas regiões passam a se preocupar com o combate ao coronavírus, direcionando recursos para isso, a economia brasileira passa a regredir. 

Isso é reflexo sobre a economia real, mas o mercado financeiro já antecipou esse cenário. Na quarta-feira (26), após o longo feriado de carnaval, o ibovespa caiu de 114 mil pontos para 105 mil, uma queda de aproximadamente 8,5%. Na quinta-feira, a bolsa novamente fechou em queda, dessa vez de 2,6%..

Coronavírus afeta cotação do dólar e do euro

Como era de se esperar, Dólar e Euro refletiram fortemente toda essa situação. O dólar é a moeda mais valorizada do mundo. E, como sempre, o “privilégio exorbitante” tem papel fundamental nisso.

Sendo o Dólar a moeda utilizada para fazer comércio internacional, é natural que sirva de reserva. E, por esta razão, em momentos de incerteza que se recorre ao Dólar para montar um “colchão” de segurança, fortalecendo a moeda norte-americana.

Por outro lado, o Euro se enfraqueceu em relação ao Dólar em meio a todo esse cenário, passando de € 1,0785 para € 1,0996, depreciação de quase 2% da moeda europeia. O dólar se fortaleceu de maneira bastante expressiva, especialmente com relação ao Real, passando de R$ 4,3941 para R$ 4,4864, mais de 2% de valorização do Dólar.

Além do coronavírus: tensão entre Executivo e Legislativo

Mas não bastasse todo esse caos global presente no mundo, tensões entre os Poderes Executivo e o Legislativo alimentam ainda mais a depreciação do Real e o risco de desaceleração econômica no Brasil. Na terça-feira (25), último dia de carnaval, um vídeo com o presidente Jair Bolsonaro convocando seus apoiadores para uma manifestação contra o Congresso e o STF gerou grande desgaste. 

O motivo central para tal movimento é a disputa pelo controle do orçamento deste ano. Com a volta do recesso, o Congresso terá que legislar justamente sobre o orçamento.

Como o próprio ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, o general da reserva Augusto Heleno, declarou, “os parlamentares fazem chantagem com o governo”.

E não se trata da primeira vez que esses posicionamentos vem à tona. Em maio de 2019, com as discussões sobre a reforma da previdência rolando, Bolsonaro acusou o Congresso de dificultar a aprovação de projetos. A situação foi atenuada com a assinatura de um documento simbólico de “pacto entre os três poderes”.

Em junho de 2019, após a proposta de mudanças na estrutura de poder do governo ser barrada no Congresso, Bolsonaro declarou que os parlamentares queriam manter o presidente como “a Rainha da Inglaterra”, ou seja, sem poder real, apenas simbólico. E ainda teve o vídeo das hienas, em outubro de 2019.

Riscos para a economia brasileira

Em meio a todas essas tensões, diversas preocupações entram no radar – especialmente da equipe econômica. Com relação ao coronavirus, a preocupação é mais global, e, em grande medida, tudo indica que o governo está se preparando.

Contudo, no que diz respeito às tensões do governo com os demais poderes, trata-se de um ponto delicado, que eleva o risco de desaceleração no médio e longo prazo.

Em primeiro lugar, o governo não tem maioria no Congresso e isso, por definição, deveria ser motivo para buscar maior articulação – não o contrário.

Em segundo, pelo estilo de governar do presidente, tudo indica que a busca pela radicalização visa articular a população e seus apoiadores contra o Congresso para, assim, buscar aprovar projetos.

Sendo este o cenário, o risco de não aprovar projetos – e projetos importantes, como da reforma administrativa e da reforma tributária – aumenta consideravelmente. Apesar dos riscos, a equipe econômica avalia que as pautas estão relativamente seguras, dado que são de interesse do próprio Congresso.

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