“Finalmente… Inflação”

Visão Geral (116)

Depois de mais de uma década sem dar as caras nos países desenvolvidos, a inflação parece ter voltado às paradas de sucesso dos Estados Unidos e da Europa.

O que se viu depois da crise do subprime, no já longínquo ano de 2008, foi uma inflação muito abaixo das metas dos bancos centrais dos países desenvolvidos, a despeito da enxurrada de dinheiro que foi colocada no sistema bancário.

O que se está a ver neste momento é algo praticamente inimaginável há dois anos e exigirá dos bancos centrais atuações, no mínimo, interessantes.

Nós, brasileiros, que mal chegamos a nos despedir da dita cuja, a inflação, também teremos de encará-la. Outra vez.

Acompanhe nossa análise a seguir.

A inflação finalmente está de volta! (238)

Parece estranho dizer no Brasil que a inflação está de volta, para nós, parece que ela nunca se foi, mas eu vou te mostrar que faz sentido falar sobre o retorno do aumento dos preços.

Nos Estados Unidos, a média anual de inflação medida entre os anos de 2008 e 2020 foi de +1,7%, com registros consistentes de deflação – inflação abaixo de 0% – em diversas oportunidades.

Durante todo esse período o Federal Reserve (FED) manteve a meta de inflação inalterada em 2%.

Em 2009, ainda sob os efeitos da crise que havia eclodido em outubro do ano anterior, os Estados Unidos registraram deflação nos preços, o que não acontecia desde 1955.

Na Inglaterra, a situação é um pouco mais tênue, mas mesmo assim tem preocupado o Bank of England, que já se disse preocupado por ter uma inflação ao consumidor acima dos 2% (+2,1%) em julho de 2019.

Na Zona do Euro, onde a inflação tem sido ainda mais baixa que a registrada nos Estados Unidos, a média anual desde 2008 não chegou a 1,5%, abaixo da meta do Banco Central Europeu (BCE).

Em maio, a inflação anual dos Estados Unidos alcançou +4,9%, maior patamar desde setembro de 2008. Na Zona do Euro, a inflação chegou aos 2,1%. Parece muito baixa para quem vive no Brasil, mas é substancialmente maior que o registrado na maior parte do tempo desde a crise financeira de 2008.

Atuação do Federal Reserve (202)

Nesta quarta-feira (16), o FED decidiu novamente manter a taxa de juros no intervalo entre 0% e 0,25%, mas alertou que a inflação parece um pouco mais duradoura e aguda do que se esperava inicialmente.

Diante da pressão inflacionária, a autoridade monetária dos Estados Unidos deve encurtar o ciclo da política ultra expansionista, ou seja, deve praticar o que eles têm chamado de “normalização” da política monetária.

Com a normalização, o FED pretende elevar a taxa básica de juros para um patamar em que seja possível desencorajar movimentos inflacionários.

Na verdade, o que temos visto é uma miscelânea de informações contraditórias. De um lado, a secretária do Tesouro Americano e ex-presidente do FED, Janet Yellen, disse publicamente que um aumento da taxa de juros neste momento reflete a retomada da atividade econômica, o sucesso dos pacotes de estímulos fiscais, ou seja, trata-se de algo bom.

De outro, diversos outros membros do FED ainda insistem em dizer que não há necessidade de aumentar a taxa de juros neste momento, afinal de contas, a inflação atual é fruto de eventos transitórios e autorreajustaveis.

Até aqui, eu estou no time da Yellen. A subida da taxa básica de juros apenas em 2023 está praticamente descartada. 

Atuação do Banco Central do Brasil (213)

O Banco Central do Brasil, que corajosa e corretamente colocou a taxa de juros no menor patamar da história durante a pandemia, teve que tomar decisões mais incisivas que o banco central norte-americano.

Já foram três reuniões em sequência em que o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, aumentar a taxa básica de juros em 0,75%. Com a decisão desta quarta (16), a Selic alcançou o patamar pré-pandemia, de 4,25% ao ano.

Segundo o próprio comunicado emitido pelo Bacen após a decisão de colocar a Selic no atual patamar, a taxa básica de juros deve alcançar 6,5% ainda em 2021, o que parece até um pouco conservador, diante da escalada da inflação dos últimos meses por aqui.

Uma das principais causas do aumento de preços no Brasil foi a desvalorização cambial. Desde o começo da pandemia, a moeda brasileira vinha perdendo força de forma aguda e persistente em relação ao dólar americano.

Apesar da coincidência, o que tem feito o dólar voltar para patamares menos elevados é a retomada da atividade econômica na China, nos Estados Unidos e na Europa e não a elevação da taxa Selic empreendida pelo Bacen desde março deste ano.

Coincidências à parte, uma eventual valorização do real será um importante aliado do trabalho do Copom.

Afinal de contas, a inflação atual é transitória? (330)

A grande discussão acerca da atuação dos bancos centrais, sobretudo em relação aos das economias desenvolvidas, é se a ação de aumentar os juros e tornar a política monetária mais restritiva, não seria prematura.

Como disse mais acima, existem diversas opiniões sobre a inflação vista desde o final de 2020. Alguns defendem a hipótese de que ela seja transitória, ou seja, em breve os preços se acomodarão, sem que para isso seja necessária a atuação das autoridades monetárias. Outros falam sobre uma inflação mais prolongada, que exigirá, sim, uma atuação mais incisiva do FED e do Bacen, por exemplo.

Para não chover no molhado, tentarei ser o mais objetivo possível.

Olhando para o Brasil, está claro que a inflação é resultado de um crônico processo de desvalorização do Real, do aumento dos preços das principais commodities e, mais recentemente, dos preços de energia.

Em outras palavras, esse diagnóstico, nos permitiria dizer que a inflação é passageira e logo deve convergir para patamares mais próximos da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional. 

O dólar americano voltou a perder força em relação ao real, e pela primeira vez em mais de um ano, ficou abaixo dos 5,00 na cotação intradiária. O preço das commodities, que continuam aumentando, deve perder força em algum momento e a crise hídrica do Brasil, há de ser superada, apesar dos gravíssimos problemas que temos pela frente.

Acontece que, a disputa eleitoral de 2022 pode conduzir o dólar a patamares substancialmente elevados,  o preços das commodities podem sofrer uma pressão muito prolongada em função do processo de retomada da atividade econômica global, a crise hídrica deixará uma importante cicatriz nos nossos preços e a inflação do setor de serviços promete ser uma pedra no sapato do Banco Central do Brasil, assim que a imunização da população brasileira atingir patamares relevantes.

Em suma, os elementos são pontuais, mas se sobrepõem e se retroalimentam, o que pode fazer dessa jornada inflacionária uma longa viagem, sobretudo para o Brasil.

Veremos.

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