Há espaço para uma redução da Selic no começo de 2020?

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, participa de audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado

O Banco Central deixou em aberto se faria um novo corte na Selic em fevereiro de 2020. Agora o mercado discute se há espaço para um corte na primeira reunião do Copom, em fevereiro, ou se é melhor manter os juros em 4,5%

O mercado financeiro já está discutindo se haverá ou não o próximo corte da Selic já em fevereiro na primeira reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) no ano. As ponderações e discussões sobre a próxima decisão são justificáveis, afinal o Banco Central (BC) deixou a porta aberta de qual seria a sua primeira decisão em 2020. Agora conta com vários fatores para colocar na conta.

De lá para cá, algumas coisas mudaram e o cenário que se desenha não é nada trivial. Por isso que as conversas e também a precificação da decisão na curva de juros estão acaloradas. E como você bem sabe, os impactos podem recair no dólar.

Isto aconteceu de forma intensa em 2019, porque o diferencial entre os juros brasileiros e dos Estados Unidos diminuiu e com isso, as operações especulativas de curto prazo, o carry trade, foram reduzidas, fazendo com que o dólar se fortalecesse. Com isso, muita atenção na próxima reunião e os seus possíveis efeitos para o câmbio.

Cortar ou não cortar a Selic em fevereiro?

Na ponta de quem afirma que manter os juros Selic no menor nível histórico, de 4,5% ao ano, sem a necessidade de novos cortes, estão alguns argumentos. Para começar, a economia brasileira está caminhando (ainda que a passos lentos) em direção a recuperação econômica. Os primeiros sinais estão começando a aparecer e o PIB expandindo entre 2 a 2,5% é plausível para este ano, o que não significa um grande boom, mas sim um crescimento gradual. Um degrau por vez.

Por isso, não haveria necessidade de um pequeno corte para incentivar a economia, o que faz com que a relação entre o risco e o retorno de cortes adicionais nos juros seja ruim.

Mas o que realmente importa para o BC é a inflação, mesmo porque o que a instituição financeira mais tem reforçado é que o seu trabalho é para manter o nível de preço sob controle e não utilizar a política monetária para estimular a economia ou ter outras atuações. Então, vamos aos preços.

Em dezembro, a alta dos preços foi intensa. Apesar de ter sido concentrada, levou a inflação anual para um nível acima do centro da meta, o que pode fazer com que os agentes econômicos remarquem seus preços com base nesse novo patamar.

Daqui em diante, a visão de gestoras de recursos reconhecidas, como a SPX, é de que a inflação deixará de surpreender para baixo e começará a surpreender para cima, exigindo que o BC comece a retirar parte do grande estímulo monetário que foi dado nos últimos anos. 

Dado que a tendência é que a inflação deixe de ficar tão acomodatícia como acompanhamos recentemente, é interessante que o BC tenha uma folga na Selic e mantenha as expectativas sob controle. Qualquer aumento abrupto da inflação pode ligar o sinal de alerta dos agentes do mercado e a tão importante confiança de que o BC atuará bem, seja abalada.

Aqui, é sempre válido lembrar que esse é um dos objetivos a ser perseguido pelo BC. A confiança de que tudo está e continuará sob controle é fundamental para evitar choques de curto prazo. E ainda, caso o BC tenha que repentinamente aumentar os juros para controlar a inflação, o movimento não será bem visto e a aclamada confiança pode ficar bem desgastada.

Com o dólar nas alturas, é importante monitorar como que será o repasse para os demais preços, mesmo porque as nossas importações são representativas.

Além disso, mais um corte, reduz ainda mais a diferença entre os nossos juros e os americanos. O nosso novo normal, como afirmado pelo ministro Paulo Guedes, é de juros baixos e dólar alto. Até aí entendido.

Agora, entender e acertar qual pode ser o nível mais baixo para a Selic (não esqueça que estamos falando de Brasil) e até qual patamar de dólar alto será confortável para nós, é outra história. A linha entre o ideal e o caos é tênue, por isso muita atenção nos próximos passos da condução da política monetária do BC.

Glenda Mara Ferreira é Economista, bacharel em Relações Internacionais com experiência em planejamento financeiro. Possui uma conta no Instagram sobre finanças pessoais e economia: @glendamara_ferreira

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