O que esperar da economia global em 2023

Que o ano ano de 2022 foi desafiador para economia global nós já sabemos. Aumento de taxas de juros, injeções de recursos na economia por parte do governo, grave escassez hídrica, a guerra na Ucrânia, tudo isso impactou diretamente o desenvolvimento econômico global.

Continue a leitura e saiba o que economistas esperam da economia global em 2023!

Como a economia global fecha o ano de 2022

Para compreender o cenário da economia global de 2023 é muito importante saber qual o nosso ponto de partida. Afinal de contas, como estamos deixando o ano de 2022?

Uma coisa é verdade, do ponto de vista macroeconômico nós vamos deixar este ano para trás em uma situação muito distante daquele que acreditávamos no começo do ano. 

A maioria das expectativas para o PIB no começo deste ano são muito diferentes do que deve se concretizar. A expectativa do mercado situa-se em torno de um crescimento de 3%.

E por que tantos erros dos economistas? Somos assim tão ruins em projeções? No geral, sim. Mas desta vez temos um bom motivo para tal.

Apesar dos elementos intrínsecos ao funcionamento do mercado, como a normalização do funcionamento do setor de serviços após fortes medidas de restrições sanitárias, tivemos também uma bela ajuda do governo.

No primeiro semestre o PIB foi muito influenciado pela liberação de recursos do FGTS e pela antecipação da primeira parcela do 13º salário de aposentados e pensionistas.

No segundo semestre, já sob a condição de estado de emergência, contamos com o aumento do Auxílio Brasil, com os cheques mensais aos quase 100 mil caminhoneiros e o aumento do vale-gás, por exemplo.

Tudo isso ajudou a dar um ímpeto adicional para a economia brasileira, mas como diria o outro, todos esses efeitos terminaram ou estão muito próximos do fim e esse é o grande desafio para o Brasil no ano que vem.

Taxa de juros no Brasil e na economia global

Como o Brasil começou o ciclo de aumento de juros de forma antecipada, esperamos pela manutenção dos juros domésticos e continuidade do aperto monetário na economia global, embora em menor magnitude.

Considerando o recente desempenho dos indicadores de confiança dos setores produtivos e dos consumidores, a expectativa é de que o primeiro trimestre do ano seja marcado por uma continuidade no movimento de desaceleração da economia brasileira, que já tem sido registrado com a divulgação do PIB do terceiro trimestre deste ano. 

Além do término da influência das injeções de recursos na economia por parte do governo, a principal explicação para uma leitura menos otimista para 2023 está ligada ao recente patamar da taxa de juros no Brasil.

Normalmente, quando o Banco Central decide aumentar os juros para conter o consumo e consequentemente a inflação, os efeitos desse aumento demoram alguns meses para serem percebidos, é o que chamamos de defasagem da política monetária.

Desta vez, além da defasagem comumente observada, tivemos essa injeção de recursos citada acima. Isso acabou retardando ainda mais a chegada do ambiente recessivo produzido pelo forte aumento da Selic.

Bem, agora ele (o movimento recessivo) deve vir de vez e trazer um ritmo menor de atividade econômica no ano que vem.

Economia global: China, Zona do Euro e Estados Unidos estão no nosso radar

Com relação a economia global, é importante ressaltar que ainda há muitas incertezas, entrar as quais, destacamos:

  1. Aumento das tensões geopolíticas no leste europeu, em especial a guerra na Ucrânia.
  2. Aumento dos gargalos nas cadeias produtivas, em especial petróleo, aço, alimentos e fertilizantes 
  3. Desaceleração da economia chinesa.
  4. Desaquecimento da economia estadunidense.
  5. Reversão do movimento de acomodação dos preços na Europa e nos Estados Unidos

Estados Unidos, China e Zona do Euro sempre estão nos nossos radares, é verdade, mas é a primeira vez em muitos anos que estamos prestes a presenciar os efeitos dos aumentos de juros em economias avançadas da economia global, e isso pode ser muito ruim para os países em desenvolvimento como o Brasil.

Nos Estados Unidos, depois da recessão técnica observada no primeiro semestre de 2022 a economia voltou a crescer e deve engatar outros crescimento no último trimestre do ano, depois de mostrar expansão de 2,9% no trimestre anterior.

Esse movimento visto nos Estados Unidos, no entanto, é meramente transitório. O recente ciclo de aumento de juros também deve trazer desaceleração para maior economia do mundo.

Na Europa, somam-se ao ciclo de aumento de juros, uma grave escassez hídrica  e a guerra na Ucrânia, o que nos leva a crer que o bloco da Zona do Euro entre em recessão técnica entre o primeiro e o segundo trimestre do ano que vem.

Por fim, na China, o governo adotou sérias medidas de restrição de mobilidade no âmbito da política de Covid zero no país, e isso já tem trazido impactos para a produção local. Os principais indicadores macroeconômicos vindos da China mostram uma economia em desaceleração.

Portanto, teremos um cenário desafiador para a economia global, fiquemos atentos ao campo doméstico e ao campo externo também.

Moeda brasileira deve se beneficiar com o fim dos aumentos de juros na economia global

Moedas não-conversíveis como o Real devem ganhar terreno contra o Dólar em 2023, refletindo a acomodação das políticas monetárias na economia global.

Os recentes pronunciamentos de membros que integram o banco central norte-americano (Fed), apontam para moderação nos juros já a partir da reunião de dezembro. Isso nos leva a crer que a taxa de juros terminal nos Estados Unidos seja de 5,5%.

O sinal de que o Fed está se preparando para interromper o ciclo de aumentos de juros é bom para o Brasil, que terá um desafio a menos para manter o valor do Real em relação ao Dólar.

Cabe lembrar que quanto mais elevadas forem as taxas de juros dos Estados Unidos, maior tende a ser a desvalorização da moeda brasileira e de outros países em desenvolvimento.

Com isso, baseado na economia global, a tendência é de um movimento muito lento e gradual de valorização da moeda brasileira no ano que vem.

E que me desculpem os leitores, mas tudo isso depende muito dos desdobramentos políticos no Brasil em 2023, ou seja, essa tendência se construiu a partir de uma leitura feita durante a transição de governo em que estão sendo discutidos novos arcabouços fiscais e em um ambiente externo ainda muito cheio de incertezas.

Perspectivas e indicadores para o Brasil e economia global

Em termos mais gerais, esperamos por um crescimento de 3,1% do PIB, em 2022 e por uma expansão menor no ano que vem, de 0,8%. De acordo com o FMI, a estimativa de crescimento do PIB da economia global é de 3,2%, em 2022. Para 2023, a previsão é de 2,7% de crescimento.

A taxa de juros brasileira  que deve encerrar este ano em 13,75% deve fechar o ano de 2023 aos 11,25%, com o início do ciclo de cortes previsto para o mês de junho.

A taxa de desemprego, que cedeu de 11,1% no primeiro trimestre deste ano para 8,3% no trimestre móvel encerrado em outubro, deve voltar a subir para cerca de 8,6%no primeiro trimestre de 2023 antes de assumir uma nova tendência de queda.

A taxa de câmbio deve encerrar este ano aos R$5,20 e ao final do ano que vem deve estar próxima de R$4,40.

A ver os próximos passos da transição de governo e o comportamento das economias do hemisfério Norte.

Seguimos de olho!

André Galhardo é economista-chefe da Análise Econômica Consultoria, professor e coordenador universitário nos cursos de Ciências Econômicas. Mestre em Economia Política pela PUC-SP, possui ampla experiência em análise de conjuntura econômica nacional e internacional, com passagens pelo setor público.

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