A retomada da Europa pode diminuir a volatilidade cambial?

Que a China foi a primeira grande economia a controlar a disseminação e mortes por Covid-19 você já sabe. Os dados da economia chinesa mostram intensa recuperação econômica, sobretudo das atividade voltadas para exportação de mercadorias.

Acontece que a China não deve ir muito mais longe com o resto do mundo agonizando em decorrência da pandemia. A recuperação global é urgente para que o crescimento chinês e a retomada vista em outros países seja sustentada e prolongada.

A Europa, uma das primeiras regiões afetadas pela propagação do novo vírus, ensaia alguma retomada da economia, mas o aumento de casos na Espanha e na França ameaçam jogar todo o esforço feito anteriormente, no lixo.

Uma recuperação mais certa das economias europeias e dos Estados Unidos condicionará, em parte, a recuperação da economia brasileira. Quanto melhor estiverem esses países, maior o potencial de uma retomada mais relevante para os países subdesenvolvidos. Quanto mais rápido a Europa deixa a pandemia para trás, menores serão as volatilidades do mercado financeiro e de câmbio.

A Europa está se saindo bem? Esse é o caminho para um Euro mais desvalorizado?

Acompanhe nossa análise a seguir.

Dados alemães animam

O Centro de Pesquisa Econômica Europeia (ZEW), na sigla em alemão, mostrou que a percepção econômica na Alemanha atingiu o patamar mais elevado desde maio do ano 2000.

Os indicadores de confiança ajudam a estimar os movimentos econômicos no curto prazo. Seja na percepção das condições atuais ou confiança no futuro, eles ajudam a quantificar o clima do ambiente econômico, e neste sentido, quanto maior o sentimento de otimismo, melhores podem ser os desdobramentos sobre investimentos e consumo, por exemplo.

O índice de percepção econômica de setembro deste ano ficou em 77,4 pontos. Em agosto do ano passado o indicador estava negativo em -44,1 pontos.

Você pode estar pensando: porque olhar a Alemanha se a Zona do Euro é composta por outros 18 países? A resposta é simples. Sozinha, a Alemanha representa cerca de 29% do PIB da Zona do Euro, é a quarta maior economia do mundo e o segundo país que mais exporta produtos de alta tecnologia no planeta.

A indústria alemã movimenta muito outros setores alemães e diversas outras cadeias presentes na Zona do Euro. Seu bom funcionamento é um indicativo de que as coisas estão se encaminhando.

Por falar em indústria, alguns indicadores apontam para um processo de melhora. O Purchasing Managers’ Index (PMI), também conhecido por Índice de Gerente do Compras, é um indicador antecedente que nos ajuda a “medir a temperatura” de determinado setor. Sempre que o indicador é maior que 50, significa que o setor está expandindo, abaixo de 50, significa retração. Antes da pandemia o PMI da indústria alemã estava sistematicamente abaixo dos cinquenta pontos, indicando desaceleração da atividade industrial do país.

Em nenhum mês do ano passado o indicador apontou avanço na atividade industrial. A situação ficou ainda mais crítica com o advento da pandemia, mas nas leituras de julho e agosto, o PMI ficou acima dos cinquenta pontos, indicando algum processo de retomada da indústria.

Espanha e França jogando contra

França e Espanha compõem juntos, outros 31% do PIB da Zona do Euro, e ambos os países viram aumentar significativamente o número de contágio pelo novo coronavírus nos últimos dias.

Não estou insinuando que uma segunda onda devastará a Europa e que o aumento de casos na Espanha e na França devem trazer os mesmos instrumentos de distanciamento social que foram vistos no começo do ano, no entanto, é inegável que o governo terá que agir para diminuir a escalada de casos, e isso pode significar, na melhor das hipóteses, uma retomada muito mais lenta e distendida da economia.

O PMI industrial da França voltou a apresentar retração após expandir em junho e julho deste ano. Já o PMI industrial da Espanha voltou a apresentar contração da produção da indústria depois de ter registrado resultado positivo no mês de julho.

Trata-se do mesmo bloco, e neste momento novas medidas restritivas podem jogar um balde de água fria na incipiente recuperação europeia.

Atuação do Banco Central Europeu

Depois que o Banco Central dos Estados Unidos (FED), optou em adotar um regime de metas de inflação mais frouxo, ou seja, será mais condescendente com o aumento do nível de preços, espera-se que a autoridade monetária europeu siga o mesmo caminho.

As medidas anunciadas por Jerome Powell, em certa medida animaram o mercado. É bom saber que o FED será condescendente com uma inflação ligeiramente acima da meta para um período mais prolongado, e por ser uma boa notícia, seu discurso ecoou pelo mundo.

Acontece que o Banco Central Europeu (BCE) está sujeito a pressões políticas de muitos membros e, portanto, uma mudanças nestes moldes pode não estar tão próxima quanto às vezes pode parecer.

Com a relativa inércia do BCE no que diz respeito a mais estímulos monetários para fazer a Europa voltar a crescer em um ritmo razoável novamente, o que se espera das autoridades europeias são políticas fiscais de cunho expansionista, ou seja, que o governo coloque a mão no bolso para bancar investimentos em infraestrutura, em inovação e modernização da matriz produtiva europeia.

Impactos no câmbio

Com a possibilidade de mais desaceleração econômica vinda de uma nova onda de contágio pelo coronavírus, o que se sabe é que as autoridades europeias terão que escolher um caminho: seguir os passos do Federal Reserve System ou adotar políticas fiscais expansionistas.

Nos dois casos a expectativa é de que as coisas fluam melhor do que fluíram desde 2008, e caso as mudanças sejam, de fato, mais eficazes, abre-se um grande caminho para os países subdesenvolvidos como o Brasil. A política de juros baixos por aqui poderá ser conduzida sem medo de que o capital estrangeiro “fuja” do país.

Neste caso, espera-se haver um fortalecimento das moedas de países subdesenvolvidos e uma relativa diminuição da volatilidade no mercado de câmbio.

Veremos.

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