De olho no câmbio: problemas internos

O mundo todo se prepara para um novo ciclo de diminuição da taxa básica de juros. Isso já seria suficiente para fazer as moedas emergentes ganhar valor frente ao dólar. No Brasil, no entanto, movimentos internos e instabilidades políticas freiam esta guinada.

Real x Dólar

Após fechar a semana anterior (15/06) com valorização de 1,97% frente a moeda norte americana, o Real voltou a perder força e era cotado a R$ 3,8662 às 14h da quinta-feira, 27 de junho.

O desempenho da moeda brasileira só não tem sido pior no mercado internacional, porque apesar da desvalorização desta semana, nas três semanas anteriores do mês de junho o Real apresentou significativas valorizações.

O comunicado do Federal Reserve (FED), do Banco Central Europeu (BCE), do Banco da Inglaterra (BoE) e do Banco do Japão (BoJ), de que poderão lançar mão de políticas monetárias mais flexíveis, além da possibilidade de um acordo, ainda que parcial entre China e Estados Unidos, têm trazido valorização às moedas dos países periféricos.

Essa onda de desvalorização do Dólar frente às demais moedas é um processo que deve permanecer nos próximos meses. Mas não é bem assim quando falamos do Brasil.

Os vazamentos das mensagens trocadas pelo então juiz Sérgio Moro e o procurador da República, Deltan Dallagnol permanecem gerando instabilidades de curto prazo no âmbito econômico. Segundo o jornalista Glenn Greenwald, do The Intercept, ainda há muito material a ser divulgado, incluindo supostos áudios.

A despeito de toda a discussão que envolve o vazamento destas mensagens, o conteúdo tem o potencial de trazer instabilidade econômica, sobretudo no mercado financeiro e de câmbio.

Além disso, no dia mundial de combate às drogas, o segundo-sargento da Aeronáutica, Manoel Silva Rodrigues, foi apanhado pela polícia espanhola com 39 quilos de cocaína, transportados pelo avião da Força Aérea Brasileira (FAB).

Essas instabilidades semanais têm impedido que o Real ganhe ainda mais força contra o Dólar, em um movimento coordenado internacionalmente.

Real x Euro

Após dois meses de valorização do Real frente ao Euro, a moeda do velho continente pode apresentar nova valorização mensal.

O Euro saiu de uma cotação de R$ 4,403 no última dia de março para R$ 4,387 no último dia de maio, no dia 27 de junho a moeda europeia era cotada a R$ 4,394, apontando variação mensal de +0,16%.

A valorização do Euro se dá principalmente em função das palavras ditas pelo presidente do BCE, Mario Draghi. Segundo o mandatário, o BCE deve recorrer a um novo processo de quantitative easing, suspenso desde dezembro de 2018.

Em outras palavras, Draghi está dizendo que o BCE injetará mais Euros no sistema financeiro europeu, tentando promover uma retomada da atividade econômica.

Diante disso, o mercado financeiro passou a apostar fortemente em um processo de valorização dos ativos financeiros, e desde então estão trocando Euros – que passam a ficar ainda mais abundantes no mercado – por ativos financeiros.

De modo geral a desvalorização do real frente ao Euro seria ainda maior se não fossem as palavras de Draghi.

Real x Libra Esterlina

Após cinco semanas consecutivas de valorização do Real frente à Libra Esterlina – a moeda inglesa era cotada a R$ 5,215 na semana encerrada em 12 de maio, de lá pra cá o valor chegou a tocar os R$ 4,867 na semana encerrada em 15/06.

Cotada a R$ 4,899 a Libra Esterlina tem apresentado variação frente ao Real em função da instabilidade política brasileira. 

A despeito de todo imbróglio político em torno da sucessão para o cargo de Primeiro Ministro, o Brexit está praticamente em compasso de espera e, portanto, salvo pelas tensões políticas brasileiras, essa seria mais uma semana de ganho do Real frente à Libra.

Perspectivas

A perspectiva de valorização do Real frente ao Dólar permanece no radar.

Como ainda não se sabe ao certo o conteúdo das conversas no âmbito da Lava Jato a serem divulgadas nos próximos dias, é muito difícil precificar este movimento. Mas está claro que o potencial de valorização do Real já foi e continuará sendo tolhido pelas instabilidades políticas internas.

A aprovação da reforma da previdência na comissão especial, ainda que com algum atraso, deve trazer alívio e puxar a cotação para baixo, ou seja, a resolução de algumas tensões políticas levarão a uma valorização do Real nas próximas semanas.

Jogam a favor da valorização do Real: a intenção de diminuição de juros nos países centrais e o andamento das reformas previdenciária e tributária.

Jogam a favor da desvalorização do Real: as tensões políticas internas, a divulgação das conversas no âmbito da Lava Jato, por exemplo e as rusgas entre Angela Merkel e Emmanuel Macron em relação a Bolsonaro.

De modo geral, portanto, a perspectiva é de haja um processo de valorização do Real nos próximos dias, processo que pode se intensificar se a tramitação da reforma da previdência for mais célere do que tem sido nos últimos dias.

Seguimos de olho.

André Galhardo é economista-chefe da Análise Econômica Consultoria, professor e coordenador universitário nos cursos de Ciências Econômicas. Mestre em Economia Política pela PUC-SP, possui ampla experiência em análise de conjuntura econômica nacional e internacional, com passagens pelo setor público.

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