Câmbio vai do otimismo à incerteza na semana

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, cumprimenta a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, durante audiência pública sobre a liberação de novos agrotóxicos, na Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara dos Deputados.

Após o otimismo com a aprovação da Reforma da Previdência, o câmbio foi afetado por cenários de incerteza, por conta do Brexit e da desaceleração internacional

A semana foi marcada por vários acontecimentos relevantes, dentre eles, a decisão da taxa de juros, o processo de impeachment do presidente Donald Trump, as idas e vindas do Brexit e a crise política no Reino Unido

Acompanhe o desenrolar desses acontecimentos.

Dólar: impacto dos cortes de juros

A cotação variou na semana influenciada pelas decisões de juros no Brasil e nos Estados Unidos

A semana foi bastante marcante para o Dólar. Logo na segunda-feira, ecoou o resultado das contas públicas norte-americanas e o  maior déficit fiscal dos últimos 7 anos – quase 1 trilhão de dólares até 30 de setembro.

Ponto importante no meio da semana foi a decisão de política monetária do Fed. Conforme esperado, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, em inglês) optou por cortar 0,25 p.p. da sua taxa de juros, para o intervalo entre 1,50% e 1,75%. 

A despeito do dissenso na reunião anterior, o Fed deverá continuar com uma política monetária preventiva. Apesar dos avanços das semanas anteriores nas negociações entre EUA e China, bem como Reino Unido e União Europeia (que, cabe destacar, já começam a se desfazer), os riscos advindos do cenário global são fortes, principalmente para a indústria norte-americana.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, lançou na quinta-feira após a decisão do Fomc um ataque verbal forte ao Federal Reserve e seu chairman, Jerome Powell, dizendo que as políticas do banco estão prejudicando a competitividade dos EUA. Este ataque, como de praxe, gerou desconforto nos mercados.

No mais, o restante da semana se concentrou no processo de Impeachment que está sendo julgado na Câmara norte-americana contra o presidente Donald Trump. O processo avança e há expectativas de que possa manchar a futura campanha a reeleição de Trump.

Por fim, cabe destacar que a assinatura do pré-acordo comercial entre China e EUA ficou em stand by. Por conta do cancelamento da reunião da APEC no Chile no final de novembro, não se sabe muito bem quais serão os próximos passos. Esse acontecimento trouxe desconforto ao mercado.

Nesse contexto, a moeda americana saiu de R$ 4,0027 na segunda-feira e abriu o pregão de sexta-feira (25) negociada na casa dos R$ 4,0209. O Real acumula, portanto, uma depreciação de aproximadamente 0,45%. 

Libra Esterlina: impasse entre Borin Johnson e o Parlamento

Libra esterlina: impasse entre Boris Johnson e o Parlamento traz incerteza à economia britanica

A principal variação da semana ficou por conta da Libra Esterlina. A novela do Brexit se arrasta, mas a maior preocupação é com o impasse político entre o primeiro-ministro britânico Boris Johnson e o Parlamento.

Para conseguir aprovar com alguma mais rapidez a saída do Reino Unido do bloco europeu, Johnson tentou antecipar as eleições na esperança de recompor o parlamento com maioria conservadora.

Cabe lembrar que essa tentativa sucede um pré-acordo entre Reino Unido e UE, além de uma tentativa anterior de bloquear o parlamento. Desse modo, a crise política no terra da rainha se aprofunda e os desdobramentos sobre a moeda são claros.

A Libra Esterlina abriu a semana cotada a R$ 5,1371. A moeda britânica seguiu trajetória de apreciação em relação ao Real. Em meio às persistentes incertezas britânicas, o Real manteve trajetória de depreciação é  relação à Libra, sendo negociada no patamar de R$ 5,1978 na abertura do pregão de sexta-feira (1/11), variação de aproximadamente 1,2%.

Euro: incertezas sobre o Brexit

Euro: incertezas sobre o Brexit ainda contaminam a moeda

Na Zona do Euro, mais uma semana sem otimismo e com as incertezas do Brexit no centro da dinâmica econômica. A moeda Europeia abriu a semana cotada a R$ 4,4384, e ganhou força em relação ao Real até sexta-feira (1/11).

O principal fato marcante no início da semana foi o esforço de embaixadores da União Europeia em preparar uma prorrogação do Brexit até 31 de janeiro, depois que o presidente Macron desistiu de pedir uma extensão mais curta.

O divórcio entre Reino Unido e União Europeia é uma novela complicada e é fundamental compreendê-la. Por um lado, o mais comum nesses anos desde o início do impasse foi as moedas, tanto Euro quanto Libra, perderem valor com a extensão do problema.

Contudo, o que ficou evidente nesse ínterim, foi a perda de valor da moeda com o aumento da incerteza, na realidade. E, esta semana, por mais que o prazo para realização do acordo tenha sido estendido, na realidade, ele reduziu a incerteza, uma vez que essa extensão se dá em um contexto de um acordo prévio alinhado pelo premier britânico, Boris Johnson, e a UE. 

Desse modo, na primeira hora do pregão desta sexta-feira, o Euro foi cotado a R$ 4,4813, uma depreciação semanal do Real de aproximadamente 0,97% em relação à moeda europeia. Ainda na primeira hora do pregão de sexta, o Euro chegou a ser negociado a R$ 4,4427, influenciado pelo fraco desempenho do nível de preços na região.

Perspectivas

O jogo virou e o otimismo que se fazia presente até semana passada se tornou incerteza e preocupação. O Real saiu de uma semana de apreciação com a Reforma da Previdência e a perspectiva de apresentação das demais reformas.

Contudo, com o compasso de espera para as reformas, o ambiente externo foi dominado pela incerteza e aversão ao risco, depreciando as moedas dos países emergentes e voltando a apreciar o Dólar.

Nesse sentido, mantemos uma leitura de que o Real deve seguir depreciado até que se torne claro (1) quais serão os próximos passos para o Brexit, (2) quando o acordo comercial sino-americano será assinado e (3) qual a timeline para as reformas no Brasil.

Seguimos de olho.

André Galhardo é economista-chefe da Análise Econômica Consultoria, professor e coordenador universitário nos cursos de Ciências Econômicas. Mestre em Economia Política pela PUC-SP, possui ampla experiência em análise de conjuntura econômica nacional e internacional, com passagens pelo setor público.

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