De Olho no Câmbio

A semana foi marcada por definições de política monetária ao redor do mundo, especialmente pela decisão do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc). As expectativas e desdobramentos dessas decisões tiveram reflexos no câmbio das moedas, como veremos a seguir.

Real x Dólar

Em linha com nossa leitura da semana passada, devemos começar com um olhar atento para o comportamento do câmbio Real-Dólar, uma vez que muitas variáveis estão em jogo.

A começar pelas expectativas em torno da reforma da previdência. Com o desenrolar das discussões em torno da aprovação ou não da reforma, alguns números já começam a ficar mais claros.

Já se fala em economia de menos de R$ 800 bilhões nos próximos 10 anos. A Análise Econômica Consultoria calcula a possibilidade de uma economia de aproximadamente R$ 650 bilhões, com a reforma aprovada.

Caso essa perspectiva se concretize, a recente valorização do Real pode mudar significativamente. Muita água ainda vai rolar embaixo dessa ponte.

Por outro lado, na quarta-feira, 19 de junho, o Fomc (comitê do banco central estadunidense – Fed), responsável pela definição da taxa básica de juros, decidiu mantê-la no intervalo de 2,25% a 2,50%.

A decisão não foi unânime, o que reforça a perspectiva de que muito provavelmente na próxima reunião a ser realizada em 31 de julho. Após a decisão, o dólar entrou em uma forte tendência de venda.

O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, deixou claro que as decisões do órgão estão sendo guiadas pelos dados econômicos – que até o momento, são ambíguos. Isso significa, em grande medida, que o Fomc ainda será um pouco mais paciente.

Neste contexto, mantemos nossa leitura de um processo de valorização do Real no curto prazo, que deve manter a cotação do Dólar próxima da casa dos R$ 3,80. Cabe destacar que até a abertura dos mercados na sexta-feira (21 de junho), a cotação do Dólar seguiu em linha com a média registrada entre janeiro e maio deste ano, de em R$ 3,83.

Real x Euro

Na Zona do Euro, a semana começou agitada. O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mário Draghi, anunciou que poderá retomar os estímulos monetários para impulsionar a economia da região.

A medida, contudo, em linha com a atuação do BCE nos últimos anos, realmente parece necessária, especialmente após os dados econômicos registrados neste segundo trimestre.

Novos dados econômicos divulgados esta semana reforçam a perspectiva de desaceleração econômica na Zona do Euro. A prévia do Índice de Confiança do Consumidor referente ao mês de junho, por exemplo, indica um recuo de 7,2 pontos.

Cabe destacar, enfim, que a decisão do Fomc não agradou muito o mercado, mas que a perspectiva de mais estímulos do BCE, tiveram efeito positivo. A taxa de câmbio do Euro em Dólar, que estava na casa de US$ 1,11 ante da decisão do Fomc, passou a operar na casa dos US$ 1,13.

De todo modo, o câmbio do Euro parece estar mais para um enfraquecimento do Dólar do que um fortalecimento do próprio Euro. Em reais, a moeda europeia seguiu cotada a aproximadamente R$ 4,33. Esse movimento reforça a tendência de equilíbrio/valorização do Real frente ao Euro nos próximos dias.

Real x Libra Esterlina

No Reino Unido, a situação parece ter melhorado sutilmente, graças a decisão do Comitê de Política Monetária do Banco da Inglaterra que pegou reboque do Fomc. O Comitê votou de forma unânime em manter a taxa de juros em 0,75% na quinta-feira (21 de junho).

Os dados econômicos do Reino Unido continuam colocando em evidência uma perspectiva negativa para a região, que se amplia com a leitura acerca dos próximos passos do Brexit.

Os membros do Comitê de Política Monetária destacaram que o cenário de um Brexit sem acordo permanece no radar, especialmente com as chances de vitória de Bóris Johnson como líder do partido conservador e, portanto, Primeiro Ministro da Inglaterra no lugar de Theresa May.

Desse modo, ajustes futuros na política monetária seguirão atentamente os dados econômicos da região. A Libra Esterlina, que começou a semana sendo negociada na casa dos R$ 4,90 era negociada na casa dos R$ 4,87 no momento em que esta análise foi escrita.

André Galhardo é economista-chefe da Análise Econômica Consultoria, professor e coordenador universitário nos cursos de Ciências Econômicas. Mestre em Economia Política pela PUC-SP, possui ampla experiência em análise de conjuntura econômica nacional e internacional, com passagens pelo setor público.

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