Desaceleração econômica e inflação

Reforma da previdência avança e a desaceleração global tem renovado a necessidade de corte de juros e de quantitative-easing, ambos os movimentos, nacional e internacional, jogam a favor do Real, ou seja: tem mais valorização do Real pela frente.

Inflação no Brasil e nos Estados Unidos 

A inflação brasileira permanece extremamente comportada, em patamares que qualquer brasileiro duvidaria na primeira metade dos anos 90. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação oficial do país, medida pelo IPCA, registrou variação de +0,01% no mês de junho. Neste contexto algumas coisas muito importantes têm que ser destacadas.

Em primeiro lugar, os meses de junho e julho têm um comportamento padrão no que diz respeito à inflação. Em todos os anos, exceção feita aos anos de profundo desequilíbrio do nível de preços como foi em 2015, há uma diminuição significativa dos preços no meio do ano. 

Esse movimento é reflexo, dentre vários motivos, da indexação da economia nacional. Ou seja, começamos o ano com o nível de preços apresentando variações positivas bem mais elevadas, fruto dos reajustes de preços que, em muitos casos, ocorrem pela inércia inflacionária. No decorrer do ano, contudo, as variações passa a ser mais moderadas.

Em segundo lugar, a despeito de todo o trabalho feito pelo ex-presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, o controle da inflação no Brasil tem acontecido pela ampla “ajuda” da demanda insuficiente dos últimos anos. 

Nos Estados Unidos a inflação também está sob relativo controle. O índice que desconta a influência dos preços dos alimentos e dos combustíveis, o núcleo da inflação, está apenas levemente acima da meta estabelecida pelo Federal Reserve System (Fed), 2,1% nos 12 meses encerrados em junho deste ano.

A inflação cheia aponta para uma variação anual de 1,6% nos doze meses encerrados em junho, ante 1,8% vistos no mês de maio deste ano.

Os dados de inflação dos Estados Unidos apontam para a possibilidade de aplicação de uma política monetária mais flexível em 2019, ademais, apesar do crescimento da economia e dos dados históricos do mercado de trabalho americanos, a inflação está sob controle inclusive em projeções de médio e longo prazo.

Política monetária 

Juros cairão quando no Brasil?

No Brasil, com o resultado da inflação de junho, a taxa real de juro ultrapassou os 3% ao ano, taxa muito superior às dos países comparáveis com o Brasil como, por exemplo, a maioria dos países latino americanos.

Isso porque estamos olhando para o índice de inflação cheio. Ao observarmos os núcleos do IPCA, a situação está ainda mais sob controle, evidenciando a ausência de tração do mercado varejista brasileiro.

Uma das principais condições “impostas” pelo Banco Central para que se pudesse iniciar um novo ciclo de cortes da Selic foi parcialmente resolvida, no último dia 10 a reforma da previdência foi aprovada com folga em primeira votação na Câmara dos Deputados. A aprovação do projeto abre caminho para acreditar que em setembro de 2019 o processo de votação esteja concluído também junto ao Senado Federal.

Diante de uma taxa real de juro anômala, da decadência da atividade econômica em 2019 e da aprovação da reforma da previdência, o Banco Central do Brasil não tem mais razões para não iniciar um novo ciclo de corte da taxa de juros a partir da próxima reunião, em 30 e 31 de julho.

E nos Estados Unidos? 

Com a perspectiva de crise vinda da Europa e, em alguma medida, dos Estados Unidos, o Fed deve optar, em breve, por começar os estímulos da política monetária. Ou seja, apesar do crescimento robusto da economia nos últimos trimestres, o Banco Central dos Estados Unidos pode se antecipar a próxima crise e começar, o mais breve possível, um ciclo de corte da taxa de juros.

A perspectiva de crise e a taxa de inflação sob controle juntam-se ao processo eleitoral do ano que vem. Seria totalmente nocivo ao presidente Donald Trump encontrar taxas de crescimento da economia sensivelmente menores no biênio 2019-20, por isso, não está descartada a influência do mandatário nas ações do Fed.

De modo geral, o Fed pode não ter tempo de “pagar para ver” se, de fato, vem uma crise por aí. Apesar de não ser consensual, nem entre os membros do mercado financeiro, nem entre os integrantes do Fomc, espera-se que no dia 31/07 o Fed anuncie um corte de 0,25% na taxa básica de juros.

Perspectivas para o câmbio

O avanço da tramitação da reforma da previdência na Câmara dos Deputados trouxe imenso alívio cambial para o Brasil. Não foi só a aprovação em primeiro turno, mas a forma com que se obteve a aprovação, com larga vantagem de votos.

Essa vantagem passa o recado de que os próximos passos devem ser garantidos pelos parlamentares sem maiores percalços. O cenário interno, benigno ao mercado financeiro e ao governo, juntou-se às agendas dos bancos centrais dos países desenvolvidos.

Banco Central Europeu (BCE) e FED já dão indícios de mais flexibilização monetária e novos cortes da taxa básica de juros, respectivamente. Até a guerra comercial que atuou como fator de instabilidade ao câmbio brasileiro, joga a favor da moeda nacional.

Em um ambiente desgastado pelas tensões com a China, o FED quer se antecipar a um possível movimento de queda da atividade econômica, dando, pelo lado monetário, o impulso que Trump precisa até as eleições no ano que vem.

O andamento das reformas e o movimento dos bancos centrais ao redor do mundo, podem dar ao Real expressiva valorização nos próximos dias.

André Galhardo é economista-chefe da Análise Econômica Consultoria, professor e coordenador universitário nos cursos de Ciências Econômicas. Mestre em Economia Política pela PUC-SP, possui ampla experiência em análise de conjuntura econômica nacional e internacional, com passagens pelo setor público.

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