O dólar pode subir mais ou os juros caem ainda mais?

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, participa de audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado

Já se tornou senso comum afirmar que o novo normal no Brasil significa ter juros baixos e dólar forte. Até aí tudo bem, todos na mesma página. Agora o que todos querem entender é até onde? Quais são os limites, tanto para o piso dos juros, bem como para o teto do dólar?

Para a Selic, nós já sabemos, deveremos parar onde estamos, em 4,25% ao ano. A ata do Banco Central (BC) divulgada essa semana deixou a mensagem clara de que esta foi a última vez que renovou a mínima histórica durante este ciclo de corte de juros.

Se uma ponta está entendida, vamos ao comportamento do dólar. Aqui, a história não é tão simples assim. Para começar, há diversos fatores que podem influenciar o seu comportamento, a nível global. Por isso que a recente disparada do dólar devido ao receio mundial com o coronavírus assustou muita gente.

Mas nessa situação, foi um efeito sentido em todo o mundo. Se o cenário no curto prazo parece mais desafiador, há uma fuga de capitais para ativos mais seguros, como o dólar.

Por isso que esses efeitos são passageiros, o que não quer dizer que devem ser ignorados por nossa autoridade monetária – mesmo porque, vez ou outra, a aversão global tende a passar por momentos de estresse.

Fatores internos que impactam o dólar

Dito isso, vamos ao cenário interno. Por aqui, se o BC pretende deixar a Selic baixa, significa que está enxergando um horizonte benéfico para a inflação (lembre-se que a função do BC é sempre manter a inflação sob controle e ponto final). 

Contudo, para que a inflação siga controlada, o dólar tem um limite de até quanto pode chegar. Já que os efeitos são sentidos diretamente na inflação.

O Brasil, como você bem sabe, é altamente dependente de produtos importados. Com o dólar mais alto, fica mais caro importar uma gama bem variada de itens, o que faz com que a inflação possa dar sinais.

Quer um exemplo? Recentemente, a General Motors anunciou que irá realizar um reajuste no preço de seus automóveis nos próximos dias. O argentino Carlos Zarlenga, presidente da GM na América do Sul afirmou que, hoje, 40% das peças de um carro de passeio básico vem do exterior e com o dólar acima dos R$ 4, que era esperado pela empresa, o aumento para 2020 deverá ser acima do que ocorreu nos anos anteriores.

Este é apenas um caso do que poderá ocorrer com os demais produtos, é sempre uma sequência de quando um preço para cima, leva os demais a aumentarem como consequência. E se essa roda gira, o país pode começar a sentir os efeitos da inflação.

Porém, o BC não pode deixar a inflação fora do controle. Por isso, conta com algumas opções: volta a subir os juros ou começa a atuar para conter as altas e/ou volatilidade excessiva do dólar.

Para a atual estrutura e momento que o país está, a primeira opção poderá balançar a confiança que os agentes econômicos têm no BC e no Brasil, portanto, é hora de vermos um BC mais atuante no câmbio. Já comentamos aqui, algumas ferramentas que o BC tem a seu dispor para controlar e manipular momentos de estresse do dólar, e agora deveremos voltar a ver a sua atuação de forma mais constante e eficiente.

O dólar será sim mais alto daqui em diante, porém há um limite para isso, o que a nosso ver, deve ser na casa dos R$ 4,20. Passando disso, há riscos de contágio de inflação e instabilidade do país. Acompanharemos de perto quais serão os recursos utilizados pelo BC.

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