O dólar está acima ou abaixo do câmbio de equilíbrio?

de olho no câmbio #67

Um dos maiores desafios entre os economistas é encontrar a taxa de câmbio real de equilíbrio, ou seja, o patamar em que a moeda nacional não pressione por déficits ou superávits mais vigorosos na conta de transações correntes.

Como se não bastasse a referida tarefa – de encontrar a taxa de equilíbrio – o Ministro da Economia, Paulo Guedes, foi além e criou a taxa de câmbio real de equilíbrio social, ou seja, aquela que seja capaz de tolher viagens e gastos internacionais por parte da população mais pobre. Pois bem, será mesmo que o câmbio mais caro é fundamental para manter o equilíbrio das contas externas ou Guedes passou do ponto, de novo?

Acompanhe!

O câmbio desvalorizado

Em diversas oportunidades eu avisei sobre a necessidade de ter uma taxa de câmbio maior, ou seja, a necessidade de manter a moeda nacional constantemente desvalorizada em relação ao dólar americano.

De modo geral, quando o Real perde valor frente às principais moedas, nossos produtos ficam relativamente mais baratos, ademais, os estrangeiros precisarão de menos moeda deles para comprar a mesma quantidade de mercadorias e insumos produzidos no Brasil.

Não é a toa que a China é constantemente acusada pelos Estados Unidos de manter a taxa de câmbio artificialmente desvalorizada. A política cambial é um instrumento poderoso. No dia 12 de fevereiro de 2019 os chineses precisavam desembolsar mais de CNY 6,98 para comprar um único dólar.

O Brasil surfou na boa onda do câmbio desvalorizado na primeira década dos anos 2000, o próprio efeito Lula – volatilidade cambial e do mercado financeiro diante da possibilidade de vitória de Lula em 2002 – colaborou para que o país pudesse construir importantes superávits comerciais, e como isso criar um significativo colchão de reservas internacionais.

Portanto, a desvalorização do real vista nos últimos dias tem o potencial de dar maior competitividade para a indústria brasileira. Além disso, um câmbio mais caro inibe importações e, por conseguinte, atua na substituição de bens importados por similares de origem nacional, contribuindo para a preservação da renda nacional e do mercado de trabalho.

Os problemas com a desvalorização cambial, associados com a instabilidade política e a anemia das importações ajudaram a construir os maiores superávits comerciais em termos nominais de toda a história brasileira. Em 2017 foram aproximadamente USD 67 bilhões, muito acima da média anual de USD 24 bilhões visto na primeira década deste século.

O câmbio desvalorizado é importante para os setores que trabalham com exportação, afinal, receberão mais unidades monetárias nacionais por dólar gasto pelos estrangeiros.

O problema é que não é só o câmbio…

Real desvalorizado

Em um país cuja pauta exportadora é tomada por produtos básicos, como é o caso brasileiro, ter um câmbio desvalorizado pode não ser um elemento tão importante assim.

No dia primeiro de janeiro de 2019 a moeda americana custava R$ 3,8813, um ano depois o valor do real havia alcançado R$ 4,0195, uma desvalorização de aproximadamente 3,6% no ano. Só em 2020 a moeda brasileira já perdeu 8,23% do seu valor frente ao dólar.

Se o dólar vem ganhando cada vez mais força frente ao real, as exportações brasileiras estão indo cada vez melhor, certo? Errado!

Em 2019 o Brasil exportou USD 225,4 bilhões em mercadorias, uma queda de 5,8% na comparação com 2018. No mês de janeiro deste ano o Brasil exportou USD 14,4 bilhões, recuo de 19,8% em relação a janeiro de 2019.

O Brasil é grande exportador de commodities e isso significa que os ganhos potenciais advindos da desvalorização do câmbio podem ser apagados pela queda dos preços dos produtos exportados nas bolsas internacionais.

Portanto, câmbio desvalorizado é bom, mas o real desvalorizado não é garantia de sucesso, uma vez que nossa economia carece de complexidade. O desafio é encontrar qual o câmbio de equilíbrio.

Sabe quem tem um câmbio super desvalorizado? A Venezuela…

Paulo Guedes: novo normal da economia é juro baixo e dólar alto. Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

Até onde vai o dólar?

Essa é a pergunta que vale um milhão… de dólares.

A chamada ‘barreira psicológica’ dos R$ 4,00 ficou para trás e agora parece que a moeda americana quer alçar novos voos. 

Tem banco fazendo projeções de R$ 5,50 por dólar americano. Hoje, certamente se trata de exagero apenas, no entanto, algumas coisas não podem ser ignoradas:

  1. a taxa real de juros no Brasil está muito abaixo da média histórica e isso afugenta os investidores;
  2. em 2019 a saída de dólares foi a maior em toda a série histórica disponível no Banco Central;
  3. o governo tem dificuldade de manter o câmbio sob relativo controle, no dia 14 de fevereiro de 2019 o Brasil tinha USD 377,7 bilhões em reservas internacionais, no dia 12 de fevereiro deste ano o volume de reservas era de USD 358,7 bilhões;
  4. as falas do Ministro da Economia corroboram para uma taxa de câmbio mais elevada nos próximos meses.

Perspectivas

Tudo indica que a moeda brasileira deve continuar perdendo valor, ainda que no caminho encontre alguns alívios em função de ações pontuais do Banco Central.

E, mesmo que essa expectativa não se concretize e o dólar desça a patamares que não são vistos há muito anos, as domésticas continuarão sem ir à Disney, ademais, nosso problema é no mercado de trabalho, na concentração de mercado, na morte da indústria nacional, não no câmbio…por enquanto.

Veremos!

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