Economia frágil, queda dos juros e Real forte no radar.

Dados econômicos brasileiros reforçam a leitura de uma economia frágil e sem tração. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) abrem espaço para mudanças na política monetária.

As ações do governo brasileiro passam à margem da fraca atividade econômica, são uma fonte de instabilidade a menos no curto prazo. Por outro lado, dados econômicos de EUA e China chamam a atenção e alimentam expectativas de mudanças na política monetária estadunidense e do desempenho chinês.

Preços permanecem altos, mas sem força

A economia brasileira parece uma piscina: água parada e só se movimenta com algum estímulo externo. Os indicadores econômicos da última semana nos deram esta tônica.

O IBGE divulgou o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA), que registrou uma leve alta de 0,13% na passagem de abril para maio de 2019. Essa é a menor variação para o mês, desde 2006, quando o índice registrou uma alta de 0,1%.

O desempenho dos preços em maio contrasta com os meses anteriores, que registraram uma forte alta, como foi o caso de março (+0,75%) e abril (+0,57%). Os elementos que influenciaram essas altas foram, especialmente, alimentos e combustíveis.

Neste mês de maio, por outro lado, a variação dos preços de alimentos e bebidas puxou os preços para baixo, dado o excesso de oferta de itens como tomate, feijão e frutas. Chama a atenção também a forte queda dos preços de transportes, especialmente de passagens aéreas, que registrou variação de -21,82%.

Cabe destacar que o IPCA ainda permanece acima do centro da meta de inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional para 2019. Os preços acumularam variação de 4,66% nos últimos doze meses findos em maio, enquanto a meta é de 4,25%.

Atividade econômica segue sem tração

Os principais destaques da última semana foram os resultados das pesquisas mensais do varejo e dos serviços, que reforçam a fraca dinâmica econômica registrada desde o início do ano.

Os dados das vendas varejistas de abril, divulgados pelo IBGE por meio da Pesquisa Mensal do Comércio, revelaram recuo de 0,6%, após registrar estabilidade no mês de março. Em 12 meses, as vendas no varejo permanecem estáveis em 1,4%.

O varejo ampliado, que considera no cálculo as vendas de automóveis e materiais para construção, teve resultado mais positivo, com avanço de 3,1%, revertendo o movimento de queda registrado na leitura anterior. Ainda assim, em 12 meses, notamos movimento de desaceleração das vendas, ao passar de 3,9% em até março para 3,5% até abril.

O setor de serviços, principal setor da economia brasileira, com representatividade de aproximadamente 70% de tudo que é produzido e vendido em nosso país, registrou alta de 0,3% nas prestações de serviços em abril.

O resultado interrompe a sequência de três quedas consecutivas. Por outro lado, ainda não foi suficiente para reverter a fraca trajetória do setor. Em comparação com abril de 2018, o volume de serviços recuou pelo segundo mês em sequência (-0,8%), após 7 altas consecutivas.

O desempenho acumulado em 12 meses desenha uma trajetória de desaceleração dos serviços no Brasil, uma vez que passou de 0,6% em março para 0,4% em abril. Cabe observar o desempenho das atividades mais sensíveis ao desempenho da indústria.

Os serviços de transportes e os serviços profissionais respondem por cerca de 55% da estrutura do setor de serviços. E, a perda de força destes ramos, apesar de esperada dado o menor fôlego do ramo varejista e industrial (demandantes destes serviços), projeta dificuldades para o setor ganhar força nos próximos meses.

E o Estado: ajuda ou atrapalha?

A morosidade do mercado de trabalho é um elemento importante na restrição da expansão da atividade econômica brasileira. Neste quadro, é difícil esperar alguma mudança na fraca atividade econômica brasileira.

O Estado parece começar a se sensibilizar com a situação da estrutura produtiva brasileira. Mas as evidências ainda não são claras e unívocas. Senadores e deputados aprovaram na terça-feira, dia 11 de junho, o Projeto de Lei do Congresso Nacional (PLN) 4/2019, que libera R$ 248,9 bilhões para o Executivo.

Desse modo, o Congresso permitiu que o Executivo realize gasto extra sem descumprir a chamada Regra de Ouro. A Constituição Federal de 1988 proíbe a realização de operações de crédito, via emissão de Títulos Públicos, para pagar de despesas com salários e benefícios sociais.

Contudo, a regra de ouro pode ser contornada, desde que por meio de créditos suplementares ou especiais, com finalidade específica e aprovados pelo Congresso por maioria absoluta. Em outras palavras, o governo não precisará incorrer em crime de responsabilidade para pagar suas despesas com a manutenção da máquina pública.

O PLN 4/2019 era considerado importante para o Executivo, uma vez que já dava por certo que não haveria recursos em caixa a partir deste mês para saldar suas despesas. Segundo o texto, a maior parte do valor corresponde a benefícios previdenciários, como pensões e aposentadorias, em torno de R$ 201 bilhões.

Por um lado, é um alívio saber que o governo não passará por mais problemas do que os já enfrentados. Por outro, preocupa que o governo continua sem possibilidades de estimular a atividade econômica. Ao fim e ao cabo, o Estado nem ajuda, nem atrapalha neste momento. O que não é bom, pois a economia segue frágil e sem tração.

Preços nos EUA e China

Dando uma olhada no cenário externo, os últimos dados econômicos dos Estados Unidos são ambíguos, especialmente a taxa de desemprego, que registrou uma geração de novas vagas de emprego bem menor do que os meses anteriores.

Combinado a isso, as expectativas para o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) dos EUA reforça a expectativa de fraca atividade. Nesse contexto, abre-se portas para a redução das taxas de juros nos EUA, em linha com o discurso do presidente do Federal Reserve (Fed, banco central americano), Jerome Powell.

Em meio aos conflitos comerciais, a China registrou estabilidade (0,1%) na variação mensal dos preços ao consumidor. O dado acumulado em 12 meses registrou variação de 2,7% até maio, de acordo com dados oficiais divulgados na quarta-feira, 12 de junho. Os preços de itens não alimentícios subiram 1,6%, complementarmente, os preços de alimentos subiram 7,7%.

Em grande medida, as variações dos preços nos EUA e China reforçam expectativas de uma provável desaceleração da economia nos próximos meses. Em linha com essa perspectiva, o governo chinês deu sequência a uma série de estímulos fiscais para manter a economia aquecida. Prenúncio de novos tempos.

Tendências e perspectivas

Há alguns dias das reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BCB) e do Comitê de Mercado Aberto (Fomc) do Fed, os dados recentes de inflação e de atividade econômica no Brasil sugerem espaço para queda dos juros já na próxima reunião, acompanhando movimento dos EUA, que tem registrado índices mais fracos por lá.

Nesse contexto, podemos ter algum fortalecimento do Real no curto prazo, especialmente com investidores estrangeiros entrando na Bolsa, aproveitando oportunidades, dado o menor nível de juros.

André Galhardo é economista-chefe da Análise Econômica Consultoria, professor e coordenador universitário nos cursos de Ciências Econômicas. Mestre em Economia Política pela PUC-SP, possui ampla experiência em análise de conjuntura econômica nacional e internacional, com passagens pelo setor público.

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