Por que a Selic não precisa cair?

Se você acompanha a curva de juros brasileira, deve ter percebido como as expectativas de que teremos uma Selic mais baixa aumentaram drasticamente nas últimas semanas. As apostas de que teremos novos cortes ainda este ano estão movimentando as curvas.

Por parte, isso demonstra que o mercado financeiro espera esta redução e, por outro, indica uma pequena pressão de que cortes adicionais caíram muito bem em nossa atual situação: inflação controlada e ritmo de crescimento muito lento, quase parando.

Bala de prata?

Contudo, na contramão do que vemos, o Banco Central (BC), mais precisamente a figura do presidente Roberto Campos Neto, aponta justamente o contrário: diz que ainda não é o momento para a mudança da Selic e que essa não seria a bala de prata. Abaixo, confira argumentos que aprovam essa postura.

Desde o início do ano, apenas escutamos o tão difundido mantra: cautela, serenidade e perseverança. Um tanto quanto moroso e nada interessante, não é mesmo?

Os únicos indícios de seus comunicados eram de que, com a aprovação da reforma da Previdência, dentre outros avanços, as possibilidades de cortes da Selic poderiam ser abertas. E sabe o porquê disso? Porque o BC não pode, nem quer correr riscos desnecessários.

No fim das contas, o recado é de que não adianta cortar os juros agora, se o ambiente e estabilidade que o investidor/consumidor precisam, não se estabelecer. Porque aí o BC cria um incentivo de crescimento no curtíssimo prazo que pode ser um voo de galinha. E se o voo não irá durar por mais tempo, a expectativa de juros no futuro sobe novamente. Ou seja, não adianta, não é o estímulo ideal.

Quando olhamos os últimos relatórios Focus, que reúne as expectativas econômicas dos principais agentes econômicos, o que vemos são consecutivas revisões de um PIB menor a cada novo anúncio. Já são 15 semanas revisando para baixo e esperando um PIB bem menor no fim do ano. As esperanças de que um crescimento poderá ser visto ainda este ano, se esvaíram.

O que falta então?

Contudo, o que o presidente do BC não cansa de falar é que o crescimento do país não é uma de suas atribuições , mas sim manter a inflação sob controle.

Mais do que isso, ele vem afirmando que a “Credibilidade é mais importante do que os juros”. É mais da história de que não são os juros mais baixos que irão impulsionar um maior crescimento e a vinda de capital do setor privado e estrangeiro, mas sim o aumento da credibilidade e confiança.

Para o BC, é necessário manter a inflação sob controle, não apenas no curto prazo, mas por mais tempo. Assim, com os preços estáveis, essa credibilidade de estabilidade e controle volta a ser conquistada.

Além do que, com a aprovação das reformas e o encaminhamento de uma agenda de simplificação, menor burocracia e privatização, o país pode entrar em um novo ciclo de investimento e consumo acelerado, algo que pode ser motivo para um ciclo de alta da Selic mais adiante.

A tese atual do BC é que não dá para trocar crescimento de curto prazo por inflação futura. Mesmo porque, a maioria das previsões econômicas aponta um crescimento menor do Brasil (caso do relatório Focus), mas a inflação continua a mesma.

É a confiança

Portanto, o que realmente é necessário são: reformas aprovadas, ajuste fiscal, qualquer ato que aponte que o país não quebrará em poucos anos. Para que com isso, a credibilidade e confiança sejam reconquistadas e o país fique pronto para retomar o seu crescimento. Aí sim, o BC pode pensar em novos cortes da Selic. Dessa forma, com todo o ciclo andando, o espaço para que o dólar fique em níveis mais confortáveis e mais estáveis, aumenta. Se o BC não acha que conquistamos credibilidade, imagina como está difícil a vinda dos recursos do exterior necessários para que o dólar se acalme – saiba mais aqui.

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