O que esperar da economia a partir dos indicadores antecedentes?

Após breve euforia vista na passagem do segundo para o terceiro trimestre do ano passado, o Brasil se viu às voltas com uma nova rodada de perda de dinamismo da economia. O que os indicadores antecedentes da economia nos dizem sobre isso?

Os dados do último trimestre de 2019 apontam para alguma desaceleração da economia, o que poderia validar a leitura de que o que houve no terceiro trimestre de 2019 foi apenas um suspiro, ocasionado principalmente pela liberação do FGTS.

Bem, o ano passado foi uma mistura de sensações, de um lado vimos alguma melhora surpreendente na passagem do segundo para o terceiro trimestre, e de outro, o sinal de que tudo isso foi apenas passageiro e que estamos voltando para o novo normal da economia brasileira, crescer 1% ao ano. 

Será que 2020 será mais um ano do 1%?

Acompanhe!

Os indicadores antecedentes

Os dados referentes ao PIB brasileiro de 2019 serão divulgados no dia 04/03 pelo IBGE. O indicador de atividade econômica do Banco Central tem uma defasagem temporal de um mês e meio, tal como os demais indicadores setoriais divulgados pelo IBGE.

Portanto, na maioria das vezes é necessário muita paciência para que se conheça a real situação da nossa economia. 

Apesar dos avanços recentes – satélites já observam a temperatura dos fornos do setor de metalurgia na China e, a partir destas observações estimam o volume de atividade econômica – coletar e compilar dados não é uma tarefa fácil.

Diante da impossibilidade de saber do desempenho da economia com maior brevidade, usamos indicadores que nos ajudam a estimar a real situação econômica em menor tempo.

Alguns indicadores antecedentes são mais conhecidos e já estamos habituados a vê-los nos jornais. Os indicadores de confiança, o monitor do PIB da FGV, o próprio IBC Br, os resultados semanais da balança comercial, entre outros.

Vamos tentar avaliar a situação destas primeiras semanas de 2020 a partir de dados menos usuais.

Consumo aparente de insumos

Segundo o Instituto Aço Brasil o consumo aparente de aço foi 9,8% maior em janeiro deste ano na comparação com igual mês do ano passado. Este poderia ser um bom indicador, no entanto, o setor de siderurgia trabalha com capacidade ociosa de 38%, além disso, os dados da demanda doméstica divergem dos valores ligados ao comércio exterior. Segundo entidade, as exportações caíram mais de 30% na comparação entre janeiro de 2020 e janeiro de 2019.

O consumo de cimento também apresentou recuo em janeiro deste ano. Segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Cimento houve recuo de 0,9% na comparação com janeiro de 2019.

O consumo aparente, que soma à demanda interna por bens internos, às importações para consumo doméstico, recuou 1,3% nos mesmos termos.

Por fim, um dado um pouco mais defasado, mas que pode nos ajudar a estimar a dinâmica de 2020 é o consumo  aparente de bens industriais. Segundo o IPEA, o consumo aparente de bens industriais de dezembro de 2019 apresentou uma forte queda na comparação com o mês imediatamente anterior, cristalizando tendência de queda para janeiro de 2020.

Fluxo de veículos; licenciamento de veículos e consumo de combustíveis

Diferentemente dos indicadores de consumo aparente, outro dos indicadores antecedentes, o fluxo de veículos em vias pedagiadas, aumentou ligeiramente no mês de janeiro.

Segundo a Associação Brasileira de Concessionária de Rodovias (ABCR), em janeiro de 2020 o fluxo de veículos subiu 0,1% na comparação com igual mês de ano passado.

Apesar de ligeira alta nos dados com ajuste sazonal, o valor observado apontou estabilidade na comparação, com crescimento de 0,5% no fluxo de veículos pesados, mas queda de 0,2% no fluxo de veículos leves.

Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o licenciamento de veículos recuou 3,2% na comparação entre janeiro de 2020 e janeiro de 2019. Os licenciamentos nacionais recuaram 2,7% e a produção 3,9%, ambos no mesmo tipo de comparação interanual.

A Agência Nacional do Petróleo (ANP) ainda não tem dados dos primeiros dias de 2020, no entanto, já é possível avaliar o consumo de derivados de petróleo e etanol de dezembro do ano passado. Segundo a ANP, o consumo de etanol hidratado, gasolina e óleo diesel chegou a 62,8 milhões de barris, uma ligeira queda em relação a novembro de 2019, mas um ganho de 0,8% no acumulado do último trimestre do ano em relação ao terceiro trimestre de 2019.

Até mesmo o volume de passageiros transportados pelos ônibus municipais poderiam nos dar alguma dica em relação à força da economia. Segundo a SPTrans, empresa estatal de transporte urbano de São Paulo, o volume de passageiros transportados em janeiro deste ano recuou ao menos 5% na comparação com igual mês de 2019.

Arrecadação de Impostos

Outro dos indicadores antecedentes a serem observados para estimar a atividade econômica é o volume de impostos. Quanto maior a atividade econômica, maior será a arrecadação, portanto, uma boa performance da Receita Federal e dos demais órgãos públicos responsáveis pela arrecadação, normalmente significa aquecimento da economia, exceção feita aos recebimentos extraordinários, que podem distorcer as séries.

Segundo a Receita Federal, a arrecadação de impostos federais pelos estados aumentou 4,69% em termos reais na comparação entre janeiro de 2020 e janeiro de 2019.

Importante destacar que a maioria dos impostos ligados à produção nacional apresentaram avanço na comparação interanual.

Perspectivas

Os números acima apontam profunda ambiguidade: enquanto o transporte de passageiros nos ônibus municipais de São Paulo caiu ao menos 5% em janeiro de 2020, a arrecadação de impostos federais subiu quase 4,7% em termos reais. Enquanto o consumo aparente de aço mostra avanço em janeiro, os dados do setor escancara a real situação do setor, que hoje trabalha com quase 40% das máquinas desligadas.

Dada a dubiedade dos dados seria prematuro estimar o desempenho da economia em 2020 a partir de linhas de tendência apontadas desde o ano passado ou pelos resultados de janeiro, por exemplo, no entanto, os números avaliados mostram que se a coisa não está tão ruim, também não está tão boa assim. Na média, tudo aponta para um desempenho semelhante aos vistos nos últimos anos.

Neste sentido, a anemia da economia nacional pode convocar o autoridade monetária brasileira a agir mais alguma vez esta ano. Se confirmada, essa ausência de tração pode empurrar os juros básicos ainda mais pra baixo, jogando o câmbio mais para cima.

É o novo normal, juro baixo, dólar alto e crescimento pequeno do PIB.

Veremos!

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