Onda de valorização do câmbio à frente

A semana foi marcada pelas decisões de política monetária do Fed nos EUA e pela decisão do Bacen, no Brasil. Contudo, tendo em vista a série de declarações de autoridades monetárias nas últimas semanas, como foi o caso dos presidentes do Banco da Inglaterra, Banco do Japão e Banco Central Europeu, o movimento desta semana pode ser o prenúncio de uma nova era de flexibilização monetária. E isso pode beneficiar o Brasil, com uma onda de valorização do câmbio. Acompanhe. 

Real x Dólar

Finalmente, após semanas de especulações e incertezas, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), órgão responsável pelas diretrizes monetárias dos EUA, votaram pela redução dos juros na reunião do dia 31 de julho.

O Comitê de Política Monetária (Copom) aqui no Brasil seguiu os passos do par estadunidense e também cedeu às pressões do mercado pela redução dos juros. Esses movimentos vêm em um momento bastante particular da economia brasileira e que pode estimular a entrada de dólares para a economia brasileira.

Por outro lado, muitas incertezas ainda rondam Brasil e Estados Unidos. Nos EUA, a medida cautelar espera fortalecer a economia. Aqui no Brasil, a medida traz consigo a expectativa de estimular a economia. 

Nesse sentido, espera-se que, no curto prazo, pouca coisa mude na trajetória do câmbio. Em outras palavras, o mercado aguarda mais sinais concretos para permanecer “comprado” em Brasil. 

Fruto dessa expectativa, o Dólar registrou alta ao longo desta semana. Desde a sexta-feira passada (26), a moeda americana saiu de R$ 3,7761 e, próximo ao final do pregão do dia 01 de agosto, era negociada na casa dos R$ 3,8447, uma depreciação do Real de aproximadamente de 1,8%. 

Real x Euro

O Euro segue os passos do “primo” Dólar. O Banco Central Europeu (BCE) já sinalizou em sua última reunião que queda dos juros deve ser cogitada somente em setembro. 

Com a decisão do Fomc, dúvidas surgiram sobre o comprometimento do BCE com o combate a desaceleração econômica global. Essa expectativa enfraqueceu o Euro com relação ao Dólar, que voltou a se recuperar após a decisão do banco americano.

De todo modo, a Europa já entrou na dança das cadeiras da flexibilização monetária. Este movimento, conforme apontou Mario Draghi, presidente do BCE, deve se fortalecer.

O Euro terminou a semana passada na casa dos R$ 4,2017 e ganhou força frente ao Real, chegando a ser cotado a R$ 4,2646 no momento que esse artigo foi escrito. Uma desvalorização do Real de aproximadamente 1,5%.

Real x Libra Esterlina

A Libra Esterlina ainda digere a vitória de Boris Johnson. As incertezas acerca do Brexit permanecem como o principal elemento catalisador das expectativas do mercado. 

Tais incertezas foram expressas na decisão de política monetária do Banco da Inglaterra (BoE). O BoE optou por manter a taxa básica de juros britânica em 0,75% ao ano. 

Nesse contexto, a Libra perdeu expressiva força com relação ao Dólar, depreciando mais de 2,6% na última semana. Com relação ao Real, por sua vez, a Libra fechou a semana anterior cotada a R$ 4,6718 e até chegou a ganhar força em relação ao Real, alcançando o patamar de R$ 4,6729 no momento que fechamos este artigo.

Perspectivas

Os movimentos pontuais de desvalorização estão mais associados a ajustes de posição de grandes players. Eles realizam seus lucros após suas apostas na queda dos juros. Não há indícios de um movimento coordenado de expectativas não realizadas.

Na realidade, há alguma insatisfação do mercado com posições menos bearish do que propagandeado por parte do Fomc, do Banco Central Europeu e do Bank of England. Ainda assim, as perspectivas se mantêm.

Nesse contexto, uma valorização mais expressiva do Real se mostra cada vez mais acertada e lógica. A queda dos juros em um movimento de precaução favorece a valorização de moedas dos países emergentes.

O ponto central continua sendo a concretização da agenda liberal do Ministério da Economia. Mas, como esta pauta está em curso, a entrada de dólares e a apreciação do Real pode ser considerada certeira.

Seguimos de olho.

André Galhardo é economista-chefe da Análise Econômica Consultoria, professor e coordenador universitário nos cursos de Ciências Econômicas. Mestre em Economia Política pela PUC-SP, possui ampla experiência em análise de conjuntura econômica nacional e internacional, com passagens pelo setor público.

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