Os investimentos estrangeiros estão melhores. Quais podem ser os impactos no câmbio?

Visão Geral

A B3, bolsa de valores brasileira, informou na semana passada que o fluxo líquido de capitais estrangeiros foi positivo em R$16,6 bilhões no mês de junho. Com o resultado, o valor acumulado no primeiro semestre do ano foi o maior desde o início do plano real.

Antes de mais nada, é indispensável dizer que sim, é um número muito importante e este volume de recursos estrangeiros pode ser muito benéfico ao país.

Apesar da importância deste número, você verá que estes valores podem não representar muita coisa para a economia nacional e para o câmbio, o nosso ponto de interesse.

Acompanhe nossa análise a seguir.

Os números da B3

A B3 informou na semana passada, que o fluxo de capital estrangeiro na bolsa de valores brasileira foi o maior para o primeiro semestre em toda a série histórica.

Foram cerca de R$16,6 bilhões só no mês de junho. O resultado acumulado nos seis primeiros meses do ano ficou em R$48 bilhões.

Em junho do ano passado, quando o país ainda passava por uma das etapas mais agudas do pandemia, a captação líquida de capital estrangeiro havia sido positiva em apenas R$300 milhões. Naquela ocasião, o primeiro resultado mensal positivo do ano.

Nos seis primeiros meses de 2020, novamente, refletindo a ampla desestabilização econômica decorrente dos efeitos da pandemia, o resultado acumulado havia ficado negativo em R$76,5 bilhões.

Os números de 2021 são ainda mais positivos quando colocamos na conta os recursos internacionais destinados aos IPOs (Initial Public Offering) realizados no primeiro semestre.

Com eles, o fluxo de capital estrangeiro ficou positivo em cerca de R$65,6 bilhões, também o maior volume de toda a série histórica. Isso porque ainda não foram publicados os dados da IPO e Follow On referentes ao mês de junho.

Outros investimentos de curto prazo

Por razões óbvias, os números citados pela B3 fazem referência aos investimentos estrangeiros alocados para a compra de ações, mas existe outro fluxo de capital estrangeiro em direção ao nosso país.

Quem consolida estes dados é o Banco Central do Brasil, que também contabiliza, além dos investimentos em ações, os investimentos em renda fixa e fundos de pensão, por exemplo.

De janeiro a maio deste ano, o volume líquido de recursos estrangeiros em renda fixa, fundos de investimento e outros tipos de aplicações, exceto ações, somaram US$18,4 bilhões. Em outras palavras, o aporte líquido de recursos estrangeiros em outros ativos financeiros superaram os fortes números da B3.

Levando em consideração a taxa de câmbio da última sexta-feira (02) R$5,0575, esses investimentos somam R$93,6 bilhões. 

Atente para o fato de que os dados do Banco Central são defasados em relação aos dados da B3, por isso ainda não estão sendo considerados os dados do mês de junho.

Por que esses números podem ser negativos ao país?

Claro que você já percebeu que o volume de investimento estrangeiro em ativos financeiros em 2021 é muito bom, certo?

Então, o que há de errado nisso tudo?

O primeiro e um dos mais importantes pontos, é usar desse volume de recursos para sustentar o argumento de que passada a pandemia no país, nosso único caminho é o crescimento robusto e sustentado no longo prazo.

Cabe lembrar que em 2020 foram retirados apenas da B3, cerca de R$31,8 bilhões, o pior resultado da história. O que também não era o fim do mundo, afinal de contas, estávamos, juntos com todos os demais países do mundo, atravessando uma grande pandemia.

Essa saída maciça de recursos, aliada à desvalorização do câmbio, tornaram os ativos financeiros brasileiros extremamente baratos para investidores estrangeiros.

A segunda preocupação advém do tipo de capital que é alocado na bolsa de valores para aquisição destas ações.

Tratam-se de capitais de curto prazo. Da mesma forma que deixaram o país de forma abrupta em 2020 e agora tornam a nos visitar, estes mesmos estão sujeitos ao humor do mercado nos próximos meses.

É uma espécie de dinheiro que reflete mais a oportunidade de lucro para investidor estrangeiro que uma aposta na retomada sustentada da economia brasileira. Em outras palavras, é um dinheiro que o país não poderá contar por muito tempo.

Qual o impacto no câmbio?

Começamos o ano com o dólar americano valendo cerca de R$5,19 e vimos ele tocar os R$5,80 no mês de março. Depois disso, no final do mês de junho, vimos a moeda americana cair para menos de cinco reais pela primeira vez em mais de um ano.

Bem, então essa valorização do real deve estar condicionada à entrada de recursos estrangeiros, sobretudo nos últimos meses, certo? Não!

Parte relevante da explicação da valorização do real em relação à moeda norte-americana está ligada à diminuição do clima de incerteza global a partir da retomada da atividade econômica dos Estados Unidos e da Europa, permitida pelo aumento da imunização da população nos países desenvolvidos.

Logo, mesmo em um ambiente de entrada maciça de recursos estrangeiros em ativos financeiros, essa não poderá garantir a valorização da moeda brasileira, sobretudo por se tratar de capital de curto prazo.

Veremos.

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