Para onde vão os juros em 2023?

2022 foi um ano desafiador para a economia brasileira e mundial. Neste conteúdo, entenda o que se espera dos juros em 2023 de acordo com a análise do economista André Galhardo.

O Copom e a espera pela desaceleração da economia

O Brasil deve entrar em 2023 com a Selic nos atuais 13,75%, refletindo o esforço do Banco Central do Brasil em controlar a inflação brasileira, que atingiu o nível mais elevado em quase 20 anos.

No decorrer do ano, mantida a desinflação em curso, o Comitê de Política Monetária, deve optar por uma redução gradual dos juros no país.

A nossa expectativa é de que o ciclo de corte nos juros brasileiros ocorra na passagem do segundo para o terceiro trimestre.

Com um nível de juros tão elevados e por um período tão distendido, esperamos por uma desaceleração da atividade econômica no ano que vem. O PIB deve desacelerar dos 3% esperados para este ano para cerca de 0,8% em 2023.

Nos Estados Unidos, o medo da crise foi embora

Antes, o Fed estava extremamente cauteloso em suas decisões e comunicados. Havia um temor de que o aumento dos juros pudessem acarretar em um amplo movimento de crise. 

Pois bem, do outro lado também tinha a inflação mais elevada em cerca de 42 anos, era preciso fazer alguma coisa.

Diante da corrosão do poder de compra do cidadão americano, o Fed decidiu enfrentar o risco de ser responsável por uma crise e passou a aumentar os juros mais rapidamente.

A grande surpresa deste ano foi que, apesar do quadro de recessão técnica, registrado no primeiro semestre deste ano, a economia voltou a acelerar e deve fechar 2022 com algum crescimento.

Com a economia respondendo bem ao remédio contra a inflação e com os preços dando sinais de alguma acomodação nessa reta final do ano, alguns membros do Fed, incluindo o seu presidente, Jerome Powell, disseram publicamente que a autoridade monetária americana diminuirá o ritmo de aperto monetário a partir da próxima reunião e o mercado projeto uma taxa terminal em torno de 5,50% para o ano que vem.

A Zona do Euro e o Reino Unido também devem tirar o pé do freio mesmo com riscos elevados de aumentos de preços

O descompasso entre as políticas monetárias dos Estados Unidos, da Zona do Euro e do Reino Unido ajudaram a produzir a maior desvalorização do Euro e da Libra já registradas.

Como o banco central norte-americano decidiu enfrentar primeiro a inflação, e os bancos centrais da Inglaterra e do Reino Unido optaram por esperar um pouco mais para mudarem suas posturas, sob o argumento de que a inflação era meramente transitória, a diferença entre as taxas de juros da América e da Europa quase feriram de morte as economias mais desenvolvidas do mundo.

O resultado dessa dissonância foi uma profunda crise cambial que arrastou o Reino Unido para uma situação em que se passou a discutir a possibilidade de uma das maiores economias do mundo pedir socorro ao FMI.

Com todos esses problemas, o Banco Central Europeu (BCE) e o Bank of England (BoE) decidiram agir e tiraram parte deste “atraso” com aumentos de juros mais fortes.

Agora, com sinais embrionários de que a inflação encontrou alguma acomodação e o Fed disse por meio dos seus membros, que deve diminuir o ritmo de aumento dos juros, abriu-se também um caminho para que as autoridades monetárias europeias moderem os seus ajustes nas taxas de juros.

O BCE e o BoE já abandonaram há algum tempo a leitura de que a inflação é transitória, mas como o núcleo da inflação (índice de preços que desconsidera o comportamento de itens mais voláteis como alimentos e combustíveis) da Europa é menor que o americano, há uma certa pressa de Christine Lagarde, presidente do BCE, e de Andrew Bailey, presidente do BoE em encerrar o ciclo de aumentos.

Tudo isso com a inflação rondando os 10% e com sérias ameaças e retorno da inflação por conta da guerra na Ucrânia e os impactos dos contornos geopolíticos sobre as cadeias produtivas.

Seguimos de olho!

André Galhardo é economista-chefe da Análise Econômica Consultoria, professor e coordenador universitário nos cursos de Ciências Econômicas. Mestre em Economia Política pela PUC-SP, possui ampla experiência em análise de conjuntura econômica nacional e internacional, com passagens pelo setor público.

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