Por que uma epidemia de Coronavírus afeta tanto a economia?

Poucas pautas comovem tanto as pessoas, como questões de saúde – ainda mais quando o tema em questão é uma possível epidemia de Coronavírus, com um agravante de vida e/ou morte. Como é de se esperar, situações desse gênero também têm profundos desdobramentos sobre o mercado financeiro.

A “bola da vez” é o chamado Coronavírus. Obviamente, outras pautas também estiveram presentes no noticiário ao longo desta semana, como os novos capítulos do impeachment de Trump, as negociações entre Reino Unido pós-Brexit e EUA, dentre outros. No entanto, nenhuma teve tamanha centralidade e impacto sobre o mercado e câmbio como o coronavírus.

Desse modo, a dinâmica deste “De Olho no Câmbio” será um pouco diferente das anteriores. Vamos compreender melhor como esse surto da doença ocorreu e, quais seus desdobramentos sobre o mercado e, então, observar como cada moeda se comportou nesse ínterim. Acompanhe.

Entendendo melhor o Coronavírus

Vamos começar do começo. O chamado coronavírus não é tão novo assim. De acordo com especialistas, é uma doença que já está presente entre nós, humanos, desde pelo menos a década de 1960. Na história recente, já tivemos dois surtos de vírus da família Coronaviridae, da ordem Nidovirales.

Em 2002, o coronavírus relacionado à síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV) também teve seu epicentro na Ásia, teve diversos casos registrados ao redor do mundo, mas rapidamente arrefeceu.

Em 2012, foi a vez do coronavírus da síndrome respiratória do Oriente Médio (ou MERS-CoV). Dessa vez, como o nome diz, o epicentro foi o Oriente Médio, e rapidamente a doença foi contida.

Além dessas duas, outras quatro versões do coronavírus foram identificadas entre humanos: o Alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43 e HKU1, todos eles causadores de infecções leves a moderadas comuns.

Até onde os pesquisadores e especialistas sabem, o coronavírus que afeta os humanos é uma versão do vírus que afeta outras espécies animais, como camelos, dromedários, bois e morcegos. Esse novo coronavírus, intitulado  2019-nCoV, ao que tudo indica, tem traços da doença que afeta morcegos, assim como a SARS-CoV.

Como ela é transmitida dos animais para os humanos ainda é uma incógnita para especialistas, mas o que se especula é que, por exemplo, o consumo de animais silvestres e/ou vivos – como acontece com frequência nos wet markets chineses – pode ser a principal forma de propagação para humanos. 

Após contrair a doença, a transmissão entre humanos pode se dar por meio de tosse, espirro, contato pessoal próximo como toque ou aperto de mão, além de contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido então de contato com a boca, nariz ou olhos.

O fato de o epicentro da epidemia ser a China deixa o mercado global ainda mais aflito, justamente pelo papel central que o país passou a desempenhar na economia global dos últimos anos.

Por que uma epidemia impacta o mercado financeiro?

Essa coluna trata de moedas, não de doenças. Então, devemos nos perguntar: por qual razão a expectativa de uma epidemia impacta o mercado financeiro?

Há diversas explicações para isso. Dentre elas, a principal razão é o receio de desaceleração econômica e depreciação dos ativos. Em outras palavras, com receio de que a epidemia afete mais pessoas e exija esforços de governos para conter a doença, investidores se antecipam e colocam seus recursos em investimentos seguros. 

O crescimento do PIB chinês no primeiro trimestre de 2020, por exemplo, pode ser de cerca de 5%, segundo autoridades chinesas. E a possibilidade de cair abaixo de 5% não deve ser descartada, conforme informações da economista do governo chinês Zhang Ming, divulgadas na quarta-feira (29).

No caso do Brasil, por exemplo, os investidores estrangeiros tiram os recursos do Brasil e o colocam, por exemplo, em títulos americanos – conforme o chamado “privilégio exorbitante” que já explicamos nessa coluna em outras oportunidades. Agora, devemos nos perguntar o que efetivamente está sendo feito e quais os riscos de uma epidemia global do novo coronavírus. 

A situação ainda é preocupante. A Organização Mundial da Saúde que havia declarado inicialmente que o risco era moderado, mudou o status para emergência, indicando risco global de contaminação. Com isso, os mercados seguem reagindo com muitas preocupações.

Coronavírus causa grande impacto sobre o dólar

As notícias parecem sobre o vírus têm causado grande impacto sobre o mercado financeiro, preocupando investidores com o risco de redução da atividade econômica, enfraquecendo moedas emergentes e fortalecendo o dólar.

A moeda americana saiu dos R$ 4,1834 na abertura do pregão de segunda-feira (27) e atingiu R$ 4,2446 na abertura do pregão desta sexta-feira (31). Contudo, na primeira hora do pregão de sexta, a cotação já havia atingido R$ 4,2587, trata-se de uma depreciação de 1,8% do Real.

Euro cresce forte frente ao real

A moeda europeia também se fortaleceu bastante nesta semana, acompanhando o movimento do Dólar. O euro abriu a semana cotado a R$ 4,6082. Na abertura desta sexta-feira (31), a cotação foi de R$ 4,6804, atingindo R$ 4,7035 na primeira hora de mercado aberto, uma forte apreciação de 2,07% do euro frente à moeda brasileira. 

Valorização da Libra Esterlina dispara na semana

Por fim, a libra esterlina abriu a semana cotada a R$ 5,4677. Nesta sexta (31), o real seguiu trajetória de depreciação em relação à libra, registrando, na abertura, a cotação de R$ 5,5532, uma apreciação de 1,56% da libra neste intervalo. Na primeira hora de pregão, a moeda britânica era negociada a R$ 5,5861.

Perspectivas

Diferentemente das semanas anteriores, o cenário que se abre no curto prazo é um pouco mais preocupante. Na última quinta-feira (30), o número de infectados pelo Coronavírus subiu para mais de 8.100 pessoas em todo o mundo, superando o total da epidemia da SARS-CoV em 2002.

Nesse contexto, podemos esperar uma continuidade da trajetória de depreciação das moedas emergentes (incluindo o real) e fortalecimento das moedas dos países desenvolvidos (especialmente o dólar), até que se tenha certeza da contenção do risco de pandemia.

Seguimos de olho.

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