Taxa de juros nos EUA e Congresso

A semana foi repleta de indicadores importantes sobre a atividade econômica nacional. Além da atividade econômica, tivemos também a importante definição dos presidentes no Congresso Nacional.

Dentre os dados de atividade, tivemos:

    • o desempenho da indústria brasileira;
    • os dados das operações de crédito;
    • a confiança dos negócios, por meio do índice de gerentes de compras.

Tivemos também conhecimento da posição do Federal Reserve sobre a taxa de juros nos EUA. A decisão do Fed – o banco central americano – abre espaço para dúvidas sobre o desempenho da economia.

E isso tem reflexos por aqui. Acompanhe a seguir nossa análise.

Definições no Congresso Nacional

A semana que passou trouxe a definição dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Na Câmara, a liderança ficou novamente na mão de Rodrigo Maia, do Democratas (antigo PFL), numa eleição sem grandes surpresas. Esse é o terceiro mandato de Maia à frente da Câmara após a gestão de Eduardo Cunha.

Maia é um dos representantes do que outrora foi chamado de “centrão”. Seu nome está envolvido em uma série de escândalos. Apesar de tudo, Maia deu indícios de apoiar a agenda de governo do presidente Jair Bolsonaro.

No Senado, o cenário foi outro.  A eleição foi bastante atribulada e resultou na vitória do candidato do governo, Davi Alcolumbre, do mesmo partido de Maia. Alcolumbre é novato e sua vitória será analisada pelo mercado. O ponto central é pesar a inexperiência de Alcolumbre no comando da Casa e verificar sua capacidade de articulação.

E a primeira batalha já está posta. Há a preocupação com o impacto da provável reação do candidato derrotado Renan Calheiros, do MDB. Calheiros é um político experiente e um hábil articulador que pode ajudar bastante a oposição e prejudicar a base governista. Alcolumbre, que defende o discurso da renovação política, tão presente no Brasil nos últimos anos, trabalha para reduzir a influência de Renan Calheiros.

Seu objetivo inicial é não deixar espaço para Calheiros nas comissões. Davi quer Simone Tebet (MDB-MS) na presidência da CCJ (Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania), uma das mais importantes da casa. O grupo de Renan quer José Maranhão (MDB-PB). Além da CCJ, o grupo de Alcolumbre trabalha para formar as comissões de Assuntos Econômicos (CAE) e de Infraestrutura (CI).

Assim, em linhas gerais, as primeiras impressões são de que os presidentes da Câmara e Senado estão alinhados com a prioridade do executivo. A divulgação da minuta do Projeto de Emenda Constitucional (PEC) da Reforma da Previdência deu espaço para que Maia e Alcolumbre pudessem se posicionar.

E como foi noticiado, de maneira geral, há alinhamento com a aprovação da previdência e de outras reformas consideradas necessárias para a retomada do crescimento econômico do país.

Movimentos da Economia

Desempenho da indústria nacional

A produção industrial, divulgada pelo IBGE no dia 1/2, teve um desempenho modesto no final de 2018. O dado mostrou que a indústria nacional cresceu 0,2% na passagem de novembro para dezembro. Apesar do número positivo na comparação mensal, houve queda de 3,6% em relação ao mesmo mês de 2017.

A média móvel trimestral apresentou crescimento de 0,2% depois de três leituras negativas. Porém, tanto o crescimento mensal como o da média móvel trimestral foram alcançados em função do desempenho da indústria extrativa mineral – categoria na qual a Vale se enquadra, por exemplo. Ademais, a indústria de transformação vem recuando desde junho de 2018, quando recuperou-se do forte tombo causado pela greve dos caminhoneiros.

Olhando o dado de forma mais atenta, sob a ótica das categorias econômicas, podemos compreender o movimento. No mês de dezembro, a produção de bens de capital (máquinas e equipamentos) caiu 5,7% na comparação com novembro. Em relação ao mesmo mês de 2017, a queda foi de 5,6%. Este indicador nos permite estimar a atividade econômica futura. Assim, a partir disso, o prognóstico não é muito positivo neste momento.

Operações de crédito

A nota do Banco Central sobre Política Monetária e Operações de Crédito reforçou nossa leitura de cenário. Dentre os destaques, o aumento do saldo das operações totais, somando empresas e pessoas físicas chamou a atenção.

O aumento do saldo das operações financeiras pode significar que pessoas e empresas estão tomando mais empréstimos para investir e consumir. Se esse dado se confirmar, podemos esperar a retomada mais forte de um  círculo virtuoso na economia para os próximos meses.

No entanto, novamente, ao olhar de forma mais atenta ao dado, foi possível identificar a ambiguidade da informação. Parte significativa desse aumento nas operações de crédito se deu pela ampliação dos descontos de duplicatas por parte das empresas. Isso significa que as empresas estão antecipando seus recebíveis, o que, a princípio, não é um dado positivo.

O processo de desalavancagem (redução de dívidas) das empresas permanece de forma mais branda que nos anos anteriores. Por outro lado, as famílias estão se endividando basicamente com cartões de crédito e cheque especial. O pior disso é que esse endividamento ocorre para saldar ou refinanciar dívidas passadas. Ou ainda, para o chamado consumo autônomo que nada mais é do que o consumo “normal” (alimentos, remédios, água, energia etc.).

Com o fechamento dos principais dados de 2018, agora as expectativas giram em torno de como a economia nacional performará em 2019.

Indicadores antecedentes

Dados antecedentes, como o índice de gerente de compras (PMI), divulgado nesta semana pela Markit, apontam ligeira redução da atividade econômica no mês de janeiro.

Além disso, dados da arrecadação de ICMS no Estado de São Paulo também de janeiro registraram recuo de pelo menos 13% em relação a janeiro de 2018. Esse e outros indicadores apontam para uma atividade econômica cambaleante no início de 2019.  Como esperávamos, os dados reforçam a necessidade de o governo transformar a elevada confiança de investidores e consumidores em efetivo crescimento econômico.

Até agora, nada de muito novo.

De olho no exterior

Nos Estados Unidos, o Federal Reserve pode ter cedido às pressões do presidente Donald Trump. Há meses Trump reclama que o Fed não colabora para o crescimento da economia, pois estava elevando os juros.

Jerome Powell, presidente do banco, anunciou na semana passada a manutenção da taxa de juros até a próxima reunião do comitê de política monetária. Sinalizou ainda que em 2019 não haverá outros aumentos de juros nos Estados Unidos. Não bastasse a manutenção, de forma totalmente inesperada, anunciou que poderá ainda reduzir a taxa de juros este ano.

Esse surpreendente movimento abriu uma série de dúvidas. Se a decisão foi mesmo por pressão de Trump, isso pode indicar que o Fed não está tomando decisões técnicas e cedeu às pressões políticas.

Por outro lado, se a decisão foi técnica, a preocupação é ainda maior. Nessa perspectiva, isso representa que o Fed espera uma desaceleração da atividade econômica dos Estados Unidos após meses de crescimento robusto.

Reflexos no Câmbio

Enquanto dados da economia nacional continuam decepcionando e enfraquecendo o Real, outros indicadores devem sustentar alguma apreciação cambial no curto prazo.

A mudança de postura do Federal Reserve em relação à política monetária dos Estados Unidos é um exemplo. O aumento da confiança das empresas e consumidores aqui no Brasil, combinada às vitórias de Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre no Congresso, mantém o movimento de apreciação cambial. Ao menos  no curto prazo.

Segue no nosso radar uma possível desaceleração da economia americana associada a uma crise na União Europeia. Além disso, a intensificação da desaceleração da economia chinesa pode dissipar a tendência de valorização do Real no médio e longo prazo, reforçando a visão de longo prazo de um Real mais fraco.

André Galhardo é economista-chefe da Análise Econômica Consultoria, professor e coordenador universitário nos cursos de Ciências Econômicas. Mestre em Economia Política pela PUC-SP, possui ampla experiência em análise de conjuntura econômica nacional e internacional, com passagens pelo setor público.

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