Commodities em queda e dólar em alta: o que está por trás deste movimento

Visão Geral

Desde que o ano de 2021 começou o que se viu foi um intenso processo de valorização no preço das commodities. 

Somente no primeiro trimestre deste ano, a valorização agregada de todas as commodities acompanhadas pelo Banco Central, mostrou aumento de 25%. E isso não era tudo. A valorização acumulada no primeiro semestre foi de 23%, mas as commodities ligadas à área de energia (petróleo, gás natural e carvão) avançaram 41% nestes seis primeiros meses.

Apesar deste ímpeto, o que temos visto nas últimas semanas é uma reversão de tendência nos preços das commodities, principalmente aquelas ligadas à atividade econômica.

Diante disso tudo precisamos entender o porquê dos preços do petróleo e do minério de ferro terem caído nos últimos pregões, e mais importante que isso, qual a relevância deste movimento para o câmbio?

Acompanhe nossa análise a seguir.

Por que os preços subiram tanto?

Em primeiro lugar, é necessário dizer que, apesar do aumento registrado no mês de julho, o avanço no preço das commodities tem assumido um ritmo de alta muito menos intenso nos últimos meses, inclusive com registro de queda no mês de junho.

O principal fator que nos ajuda a entender a alta dos preços das commodities, sobretudo nos primeiros meses do ano, é a retomada econômica encabeçada pela China e, posteriormente, pelos Estados Unidos e países que compõem a União Europeia.

O aumento da demanda por produtos básicos e insumos manufaturados pressionaram a capacidade produtiva global que até agora encontra-se com algum grau de deficiência em função das medidas restritivas para conter o avanço da Covid-19.

Além das “leis de mercado” e dos gargalos produtivos circunscritos no bojo da pandemia, outro componente relevante explica o forte movimento de alta, a especulação.

Em maio de 2020 nós tivemos a oportunidade de acompanhar o preço do barril de petróleo ser cotado a preços negativos. Naquele momento, uma disputa geopolítica entre Rússia e Arábia Saudita e o avanço da pandemia sobre a China, Irã e Itália colocaram o mercado de joelhos, e o que se viu foi uma abrupta queda no preço das commodities, refletindo a inevitável diminuição do ritmo de atividade econômica global.

No começo deste ano, de forma inversa, estava claro para todos que o avanço da vacinação poria de pé novamente as economias mais atingidas pela crise do coronavírus.

Além do aumento da demanda, que de fato pressionou as cadeias globais de valor, houve um aumento súbito dos preços pela expectativa de que a pandemia estava definitivamente ficando para trás.

Por que os preços estão em queda agora?

O mês de agosto tem sido marcado por expressivas quedas nos preços das principais commodities, sobretudo naquelas que estão ligadas ao nível de atividade econômica.

Algumas destas quedas registradas nos dez primeiros dias de agosto foram do minério de ferro (-18,7%), petróleo WTI (-7,4%), petróleo Brent (-7,2%) e cobre (-2,2%).

Essas alterações de preços estão relacionadas, em alguma medida, aos dados que apontam para uma eventual desaceleração da atividade econômica chinesa, decorrente do recente aumento no número de casos de Covid-19 no país.

Na Europa, apesar da boa performance indicada pelos indicadores não-oficiais referentes aos meses de julho e agosto, o medo de novas paralisações em função do aumento do número de casos de Covid-19 pela variante delta, tem impactado o mercado de capitais, de câmbio e o preço das commodities.

Ainda é cedo para dizer se essas quedas representam um movimento duradouro, afinal de contas, apesar da queda registrada nos dez primeiros dias deste mês, em julho o Commodity Research Bureau Index registrou aumento de 2,4% no preço das commodities.

Existe alguma correlação com o comportamento do dólar?

Veja você que, em agosto, enquanto a maior parte das commodities ligadas à atividade econômica perderam valor, o dólar dos Estados Unidos avançou sobre as principais moedas dos países desenvolvidos.

O DXY índex, indicador que mostra o comportamento do dólar em relação a seis outras moedas (Iene, Franco suiço, Euro, Coroa sueca, Dólar canadense e Libra esterlina) mostrou que o dólar se valorizou cerca de 1% em relação às seis outras divisas desde o último dia 31.

Além de ganhar terreno em relação às moedas dos países desenvolvidos, o dólar também avançou sobre as moedas de países emergentes.

Entre as treze maiores economias subdesenvolvidas, apenas duas delas viram suas moedas se valorizarem contra o dólar nos primeiros dias de agosto (Turquia e Indonésia). Entre as moedas que mais perderam valor estão o real (-4,5%), Rand Sul-africano (-3,8%) e Ringgit Malaio (-2,1%).

Existe alguma correlação com o comportamento do dólar?

Sim! O dólar pode apresentar alguma correlação com o movimento do preço das commodities.

A relação inversa, normalmente vista entre o dólar e as commodities, está intimamente ligada às “leis” de oferta e demanda, ou seja, responde ao movimento do mercado.

Acompanhe o raciocínio. Se o dólar se valorizar em relação às demais moedas, é muito provável que ocorra um aumento dos preços das commodities. Isso acontece em decorrência do incremento da demanda ocasionado pela própria valorização do dólar.

Veja só. Quando o dólar fica mais caro, há um estímulo às exportações das commodities. Esse movimento ocorre porque o dólar mais valorizado significa que os produtos negociados internacionalmente estão relativamente mais baratos. A relação é: moeda referência mais cara, produtos relativamente mais baratos.

Neste sentido, se o dólar está mais caro, seria natural esperar que o aumento dos preços das commodities continue muito vivo pelos próximos dias.

Aí é que está…não é bem assim. Apesar desta correlação, o funcionamento dessa dinâmica não é automático.

Desta vez, o dólar tem ganhado força em relação às demais moedas pelo mesmo motivo que os preços das commodities têm caído. O medo de novas restrições por conta do aumento dos casos de Covid-19.

E no Brasil, além de todos estes efeitos, temos diversos outros componentes que atuarão pela desvalorização da nossa moeda, sobretudo aqueles ligados à política.

Mas tem boa notícia nisso tudo.

O ritmo de imunização está aumentando e o arrefecimento da retomada econômica da China pode ser momentâneo.

Agora é torcer pela diminuição do ruído político no nosso país.

Que este texto seja o arauto de boas notícias nas próximas semanas.

Veremos.

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