Como o Banco Central deve agir sobre o câmbio em 2020

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, participa de audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado

Em 2020, o Banco Central tende a atuar sobre o mercado de câmbio apenas para controlar movimentos mais abruptos das cotações, de forma independente da política de controle da inflação.

Nas últimas três semanas, discorremos sobre quais são os pontos que podem impactar o câmbio em 2020 – e olha que não são poucos os motivos para termos oscilações ao longo do ano.

Mesmo com o câmbio flutuante, o Banco Central (BC) pode intervir em situações nas quais a sua volatilidade esteja fora de controle (muito acentuada) ou que esteja acima de um nível aceitável, é o chamado câmbio flutuante “sujo”.

Nesses momentos, o BC pode atuar com alguns instrumentos diferentes, que irão variar de acordo com a necessidade do país. Para 2020, esperamos alguns tipos de intervenção.

A forma mais comum que você vê com frequência nos jornais é via oferta de “swaps cambiais”, uma operação que equivale à venda futura de dólares e tem a função de evitar a volatilidade – é uma política adotada desde de 2013.

Desde 2016, com a presidência do BC sob o comando de Ilan Goldfajn, temos observado uma outra atuação acontecer com mais frequência (e que deverá continuar sendo utilizada em 2020), os leilões de linha. Essas operações são feitas por meio da venda de moeda norte-americana no mercado à vista, com recursos das reservas internacionais brasileiras. Dessa forma, com mais dólares em circulação no mercado, o seu preço tende a cair.

Vale destacar que como os recursos ficam apenas temporariamente fora das reservas e são devolvidos nos meses seguintes, não impactam o nível de nossas reservas.

Outro tipo de intervenção do BC, confere mais questionamentos se é ou não a melhor forma de manipular o câmbio é por meio da venda direta de dólares no mercado à vista. Para simplificar, é quando são utilizados os recursos de nossas reservas internacionais – como há custo para manutenção das reservas e ainda polêmicas de qual seria o nível/tamanho ideal, sempre que os recursos são utilizados, algum grupo levanta um tipo de questionamento.

O próprio BC reluta em utilizar os recursos para evitar uma queda das reservas, como atualmente o nível está confortável, a dúvida é o quão custoso é ter todo esse dinheiro. Por isso que o BC atualmente tem uma margem mais conveniente para atuar em situações de estresse.

A “mensagem” que o Banco Central transmite

Hoje em dia, com o comando do BC de Campos Neto, a mensagem é que as atuações ocorrerão sempre que notarem movimentos “disfuncionais” na cotação da moeda ou em caso de gap de liquidez. Ou seja, o olhar é no curto prazo e não leva em consideração eventos de base macroeconômica.

Em tempos de dólar mais forte, o questionamento se haverá contaminação na inflação se atenua. Afinal de contas, todos querem saber se haverá mudanças na Selic devido a inflação mais alta em decorrência dos impactos do dólar forte.

Aqui, o recado é claro: há separação entre política monetária e cambial. As intervenções são apenas para movimentos mais abruptos no câmbio e não para controlar a inflação.

Além desses instrumentos mais conhecidos, é sempre importante ressaltar que uma boa comunicação do BC ao mercado e a conquista de confiança também são fatores que deixam a moeda mais tranquila. Campos Neto e sua equipe tem trabalhado em melhorar essa comunicação ao longo de 2019 e não deve ser diferente no próximo ano. Quanto menos controversas foram causadas, melhor. Menos ruídos e especulações podem representar menos oscilações.

Isso porque, já pudemos observar diversas ocasiões em que um bom comunicado, uma sinalização de que tudo está bem encaminhado e sob controle, são o suficiente para garantir que a moeda não irá subir e descer de forma descontrolada. Daí mais um motivo para a defesa do BC independente e sem intervenções do governo, transmite mais um sinal de autoridade à instituição e de certa forma, aumenta a confiança dos investidores e agentes do mercado.

Neste ano, o balanço final foi de aprendizado por parte do BC e de que a comunicação e formas de atuação deverão ser lapidados em 2020. Portanto, as principais interferências deverão ser via dólar à vista e com uma excelente comunicação para ancoragem das expectativas.

Dessa forma, poderemos ver a entrada de capital estrangeiro de qualidade, em especial, com as privatizações que foram adiadas para o próximo ano e com menor entrada de capital especulativo (como já vimos em 2019).

Glenda Mara Ferreira é Economista, bacharel em Relações Internacionais com experiência em planejamento financeiro. Atualmente é especialista em investimentos na Levante. Possui uma conta no Instagram sobre finanças pessoais e economia: @glendamara_ferreira

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