Na espera do fluxo de investimento estrangeiro

No início do ano, o coro do mercado financeiro era um só: nada segura a Bolsa, o dólar em queda e só falta passar o período de curva de aprendizado do governo para que o investimento estrangeiro venha para as nossas terras.

Corta para a realidade. Fim de maio, a Bolsa subiu pouco mais de 4% no ano, o dólar insiste em ficar coladinho nos R$ 4 e o dinheiro gringo só sai.

O alvoroço todo por aqui e a razão de estarmos tão distantes do que foi idealizado no início do ano tem nome e sobrenome: espera pela aprovação da reforma da Previdência. É claro que nós sabíamos dos percalços no meio do caminho e da dificuldade de articulação do novo governo, mas os estrangeiros não. E por isso, os recursos externos custam tanto a vir para cá.

Flashback

Em meados de janeiro, o fluxo estrangeiro chegou a colocar um pé aqui. Seja na Bolsa brasileira, seja via investimento externo. Afinal de contas, a confiança dos investidores nacionais estava tão alta, com os ativos se valorizando, que alguns até toparam acreditar que as reformas estruturais viriam.

O objetivo de Paulo Guedes é aprovar a Reforma da Previdência com modificações mínimas.

Aqui abro uma explicação. De fato, ninguém acredita que a reforma da Previdência fará o Brasil se tornar um país de primeira. Mas é sim um primeiro passo que demonstra um compromisso fiscal do país, e um gatilho para aumento da confiança que desencadeará crescimento nos mais variados setores.

Agora, retornando. De lá para cá, tanto o investidor brasileiro como estrangeiro, recuaram. Por mais que o sentimento de que teremos reforma e outros avanços, o crescimento previsto para 2019 já está praticamente perdido e apenas teremos melhorias depois. Com isso, a festa foi adiada.

Rebaixamentos nos rankings de investimento

Para piorar a nossa situação, há poucas semanas foi divulgado que o Brasil saiu do ranking dos 25 melhores países para investir. Foi a primeira vez em 21 anos, de acordo com a lista da consultoria empresarial norte-americana A.T. Kearney, que é elaborada com a opinião das maiores multinacionais.

O fluxo já estava difícil nos últimos anos, quando olhamos os dados do IED (investimento estrangeiro direto – destinado para ampliar a produção de empresas, com aumento de negócios, geração de empregos…). Imagine agora com mais essa perda de selo de confiança.

No Brasil, o fluxo passou de US$ 68 bilhões, em 2017, para US$ 59 bilhões no ano passado. É um fluxo menor do que em 2016, por exemplo, e abaixo da expectativa de movimentação de US$ 75 bilhões.

Em 2018, caímos para a nona posição dos principais destinos de investimento estrangeiro no mundo. É claro que o fluxo internacional caiu como um todo, mas nosso país foi penalizado até quando comparamos com outros países emergentes. E o que veremos neste ano, não será diferente do que foi acompanhado nos últimos anos.

O cenário na Bolsa tampouco é animador. A nota de investimento concedida pelas principais agências de rating, como a S&P, Fitch e Moody’s, funciona como um balizador. Ainda que o sentimento geral seja que as notas sempre estejam atrasadas, alguns fundos de investimentos nem podem investir no país se a nota não estiver dentro de um padrão estabelecido. E o nosso patamar segue lá embaixo, além da imagem que o investidor estrangeiro tem do Brasil é de que é preciso esperar um pouco mais, para chegar em meio a um ambiente mais estável.

Apesar dos pesares

Apesar de todo o cenário catastrófico traçado aqui, ainda há motivos para confiança. Acredito que teremos a aprovação da reforma da Previdência este ano, um aumento gradual da confiança de empresários e consumidores e retomada do crescimento econômico. De forma geral, creio em uma maior estabilidade política e econômica.

Estabilidade política depende muito do trabalho na Câmara dos Deputados

Com tudo isto, 2019 ainda tende a ter o dólar além do patamar que seria o ideal para nós, rondando os R$ 3,70 a R$ 3,80. Isso porque para que o câmbio possa cair de vez, é preciso que o dinheiro gringo venha para cá. Sem ele, a conta não fecha. Não adianta apenas a atuação do Banco Central, por exemplo. O câmbio ainda é balizado pela quantidade de dinheiro que entra e sai daqui. Por isto, os mais ansiosos deverão esperar mais definições e clareza em nosso país.

Glenda Mara Ferreira é Economista, bacharel em Relações Internacionais com experiência em planejamento financeiro. Atualmente é especialista em investimentos na Levante e acabou de inaugurar um canal no YouTube sobre finanças pessoais, Glenda Mara.

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