O grande risco cambial

Visão Geral

A proximidade das eleições, o desgaste político, a pandemia e o enfraquecimento do overhedge dos bancos brasileiros exigirá do Banco Central do Brasil uma atuação ainda mais robusta para evitar um intenso processo de desvalorização do real em relação às demais moedas.

O problema nisso tudo é que parte das ferramentas do Bacen podem produzir um efeito adverso na economia nacional.

O que podemos esperar do câmbio e da nossa economia para os próximos meses?

Acompanhe nossa análise a seguir.

O Banco Central está injetando mais dólares na economia

No Brasil, o ano fiscal coincide com o calendário, ou seja, são quatro trimestres que começam em janeiro e terminam em dezembro.

Já nos Estados Unidos, o ano fiscal começa em outubro e termina em setembro do ano subsequente. No Japão, o ano fiscal tem início no dia 1º de abril.

Pois bem, por que isso é importante para nós?

Muitos setores brasileiros são dominados por grandes empresas estrangeiras, as famosas multinacionais.

Neste caso, suponha uma empresa norte-americana quer “fechar seus números” no último mês do ano fiscal por lá, setembro. Para que essas contas fiquem ainda melhores, essas multinacionais podem lançar mão do uso de recursos obtidos onde estão instaladas e enviá-las às suas filiais.

Esse fluxo maior de recursos em direção aos países desenvolvidos, comum nos meses finais do ano, acabou obrigando o Banco Central do Brasil a recalibrar o volume de contratos de câmbio oferecidos no mercado, uma vez que os bancos parecem não dispor da proteção extra contra o movimento do mercado de câmbio, o chamado overhedge.

Como os bancos estão mais descobertos do que em outros anos, o Bacen prometeu injetar liquidez extra no sistema (quase US$1,5 bilhão por semana) todas as segundas e quartas-feiras.

Mas esse não é o único problema.

Porque os investimentos estrangeiros não vão lá muito bem (163)

Desde o início da pandemia o volume de investimentos estrangeiros reduziu consideravelmente.

Esse movimento nos parece bastante intuitivo, uma vez que o aumento do clima de incerteza acabou atuando como um postergador de investimentos produtivos em todo o mundo.

Pois bem, no Brasil, o declínio de investimentos estrangeiros diretos, chamados de investimentos em ativos fixos, já era registrado mesmo antes da pandemia, movimento que foi agravado com a chegada e propagação do Sars Cov-2 por aqui.

Na semana anterior, o Banco Central do Brasil informou que o volume de investimento direto estrangeiro acumulado nos 12 meses encerrados em agosto havia alcançado US$49,4 bilhões, abaixo dos US$56,8 bilhões registrados nos 12 meses encerrados em agosto de 2020.

Essa relativa anemia dos investimentos estrangeiros atua também em desfavor da nossa moeda, já que diminui o volume de recursos internacionais no mercado brasileiro. Essa diminuição ajuda a produzir a desvalorização que temos visto nos últimos anos.

E isso pode ser apenas o começo.

E o que não estava muito bom pode mesmo ficar pior nas próximas semanas

Há bastante tempo nós temos chamado a atenção para o fato de que as eleições presidenciais estão perigosamente próximas.

Por que usar a palavra perigosamente?

Não é novidade para o brasileiro encarar uma intensa desvalorização da moeda nacional em ano de eleição para presidente do nosso país. E, na verdade, não são apenas as eleições que causam impactos no câmbio. Imbróglios políticos de toda ordem costumam produzir efeitos adversos sobre o valor do real em relação às demais moedas.

Isso é perigoso porque temos muita coisa junto. Um relevante ruído político associado a relativa proximidade com as eleições de 2022. Tudo isso associado a uma taxa de câmbio já muito desvalorizada se olharmos para o patamar pré-pandemia.

Dito de outra forma, estamos com a água na cintura e já estamos enxergando novas tempestades no horizonte.

Diante dos nossos próprios desafios, o potencial de desvalorização da nossa moeda é muito importante e pode produzir importantes impactos econômicos indiretos nos próximos meses.

E o câmbio não é o único problema

Só para que você tenha noção do impacto indireto da desvalorização cambial sobre a nossa economia, eu vou falar de dois elementos importantes, inflação e taxa de juros.

A desvalorização da nossa moeda deve continuar contaminando os preços aos consumidores. A meta de inflação descumprida este ano, tem grandes chances de não ser cumprida em 2022 também.

O Banco Central por sua vez tentará impedir que movimentos autônomos de inflação coloquem em risco o cumprimento da meta de inflação para 2023. Neste sentido, uma das ferramentas a ser usada é o aumento da taxa básica de juros.

Por fim, o aumento da taxa de juros tende a atuar contra o processo de retomada econômica nos próximos meses.

São grandes os desafios brasileiros nos próximos meses.

Seguimos de olho.

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