O PIB do 3º tri na visão do investidor internacional

O resultado do PIB no terceiro trimestre veio acima das estimativas do mercado, mas o investidor internacional ainda espera números mais animadores antes de investir no Brasil

O ano de 2019 foi um excelente exemplo do comportamento dos investidores internacionais em relação ao Brasil. Veja só, por mais que estivéssemos otimistas com a guinada liberal e agenda reformista, os efeitos práticos esperados (como a vinda de recurso estrangeiro) não ocorreram.

Neste ponto, temos diversas justificativas do porquê deste adiamento (como preferimos encarar ao menos por enquanto). A ideia aqui não é apontar cada uma das razões, mas explicar um dos pontos que é fundamental: investidor estrangeiro só compra crescimento.

Como o nosso crescimento ainda é lento, acabamos ficando como uma opção para mais tarde.

Nessa semana, o PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro trimestre foi divulgado. Apesar de ter sido acima das expectativas, o número apontou uma alta ainda tímida de 0,6%, porém com perspectivas de que irá continuar no sentido de retomada do crescimento. Na comparação com o mesmo período do ano passado, o avanço foi de 1,2%.

O que puxou o PIB para cima

Os setores que puxaram o que é entendido como o ponta pé para a volta do crescimento foram: o setor extrativista que avançou 12% e a construção civil com 1,3%, além da agropecuária que cresceu 1,3% e os serviços, que tem um peso relevante, aumentou 0,4%.

Na sequência podemos destacar a alta de 2% nos investimentos, demonstrando que a iniciativa privada está começando a aparecer e que mais adiante deverá liderar este ponto, e logo depois o consumo das famílias com 0,8% de aumento (influenciado pela liberação dos saques do FGTS) e que também tem uma contribuição importante para o valor total, mas ainda precisa da redução do desemprego para vir com mais força.

Vale destacar que a alta do dólar foi mais expressiva recentemente, o que implicará em ajustes benéficos para a agropecuária.

O agronegócio brasileiro é um dos maiores exportadores do mundo e o dólar mais caro significa real desvalorizado, o que barateia o produto brasileiro no mercado internacional.

Por isso que além das boas perspectivas para o país, no sentido de que os setores seguirão avançando, há esse pequeno impulso adicional, o que, juntamente com os bons dados do varejo no Black Friday, já tem feito as próximas perspectivas serem revisadas.

O que o investidor estrangeiro não viu no Brasil?

Tudo bem, estamos caminhando na direção correta, uma recuperação lenta e gradual está logo ao virar a esquina. Contudo, para o investidor internacional que está de olho nos países emergentes, que estão à margem dos grandes centros (como EUA), a comparação de onde alocar o seu dinheiro fica mais difícil.

Quando é colocado na mesma balança, o estrangeiro pensa duas vezes antes de colocar o dinheiro aqui. Vale mais a pena investir no Vietnã e China, por exemplo, que já contam com crescimento expressivo, do que aguardar por sabe-se lá quanto tempo, o crescimento brasileiro despontar por aqui.

Portanto, a máxima de que o investidor estrangeiro só compra crescimento faz sentido para o momento que estamos passando.

Por isso que deveremos esperar dados mais concretos de um crescimento pujante para que o tão aguardado capital estrangeiro venha para cá e nos ajude a impulsionar ainda mais o nosso desenvolvimento.

Enquanto a entrada mais forte de recursos não vier, fica mais difícil acompanharmos quedas mais acentuadas do dólar. 

Glenda Mara Ferreira é Economista, bacharel em Relações Internacionais com experiência em planejamento financeiro. Atualmente é especialista em investimentos na Levante. Possui uma conta no Instagram sobre finanças pessoais e economia: @glendamara_ferreira

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