O que pode ameaçar a taxa de câmbio em 2020

O ex-presidente do BC Ilan Goldfajn transmite o cargo para o novo presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto.

Fim do ciclo de queda dos juros e a demora na atração de investimento estrangeiro são fatores que podem elevar a taxa de câmbio em 2020.

Para aproveitar que estamos em dezembro, o último mês de 2019, iremos comentar nas próximas semanas quais são as perspectivas para o dólar em 2020. Afinal de contas, não queremos saber o que passou, mas sim o que virá daqui para frente.

Para começar, iremos traçar alguns fatores que podem influenciar a cotação da moeda forte no próximo ano no cenário local. Como são diversos fatores que fazem o seu valor flutuar ao longo do dia, e é praticamente impossível cravar um número para a sua cotação, iremos citar quais são os principais pontos que irão influenciar e que você deve ficar de olho.

Como de costume, sempre temos alguns fatores para temer. Apesar de a maioria dos riscos que o mercado fica monitorando, na maioria das vezes nem se realizarem, são os medos que movem e geram volatilidade. Sem o receio e apreensão do que pode acontecer, nada sai do lugar. Com o dólar, a história não é diferente. Por isso vamos aos fatores que podem levar o câmbio em 2020 para cima.

Em primeiro lugar, a mudança de política econômica. Devido às mudanças e ajustes ficais que vem sendo realizadas e que ainda serão feitos em nosso país, o Banco Central consegue cortar os juros estruturalmente.

Este primeiro item é diretamente relacionado ao fim do fluxo estrangeiro especulativo para o Brasil. O nosso principal produto de exportação, diferentemente do que a maioria das pessoas pode pensar, não é a soja ou o milho, mas sim o juro real (juro nominal descontado a inflação). Por incrível que pareça é onde víamos grande fluxo de entrada de dólares.

Agora que essa diferença entre os juros e inflação está menor, o capital especulativo procura lugares com taxas mais atrativas e não aqui, onde a diferença ficou muito pequena.

Ademais, por mais que seja o interesse e até expectativa dos brasileiros, o fluxo estrangeiro ainda demorará para vir.

Vai demorar para vermos a cor do dólar

Em um evento em São Paulo na última semana, o ex-presidente do Banco Central brasileiro, Ilan Goldfajn, foi enfático. Segundo ele, os investidores estrangeiros, que até agora não vieram em peso para capturar as oportunidades do mercado brasileiro, não irão mudar sua estratégia:

“A festa é muito boa, mas a festa é nossa. O investidor estrangeiro não virá”.

Ilan Goldfajn, ex-presidente do Banco Central

Para ele, os grandes gestores de recursos internacionais estão preferindo optar por sacrificar a rentabilidade e ter segurança. Eles têm preferido ativos mais seguros de países desenvolvidos em vez de alternativas mais rentáveis de países emergentes. Apesar de os principais mercados praticarem taxas de juros muito baixas ou até mesmo negativas, não se registra uma fuga de ativos em direção para outras praças.

Para Goldfajn, os bancos centrais têm se adaptado a essa mudança na demanda dos investidores. Os juros baixos indicam que não há demanda por risco. Assim, é possível que as taxas permaneçam baixas durante muito tempo sem que isso provoque migrações significativas de capital.

Somado a tudo isso, ainda sofremos o contágio por estarmos na América Latina, a região que ficou conhecida por ter um novo protesto diferente a cada semana. Os eventos já passaram pela Argentina, Chile, Equador, Bolívia, Colômbia, e a preocupação de que a esquerda possa voltar por aqui também, não passa despercebida ao investidor estrangeiro. Se para eles, os países emergentes estão no mesmo pacote, os países latino americanos também. Por isso, que sofremos um contágio ocorreu e o dólar estressou, fechando novembro com alta de 5,5%.

Apesar de ter sido um efeito momentâneo, pode voltar a assustar os investidores estrangeiros que deverão continuar hesitantes para entrar no Brasil, afetando o câmbio em 2020. Por ora, a festa é realmente nossa e deveremos esperar o segundo semestre para vermos o dólar vindo em nossa direção e assim, a sua cotação cair. 

Glenda Mara Ferreira é Economista, bacharel em Relações Internacionais com experiência em planejamento financeiro. Atualmente é especialista em investimentos na Levante. Possui uma conta no Instagram sobre finanças pessoais e economia: @glendamara_ferreira

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