Para onde vai o câmbio?

O ministro da Economia, Paulo Guedes, fala na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, sobre os impactos econômicos e financeiros da Nova Previdência.

Raissa Florence, Head of Sales na Remessa Online, analisa o cenário de câmbio desta semana, a partir de um contexto geral do mercado internacional, e aponta uma tendência de alta nas cotações.

“Para onde vai o câmbio” –  essa foi a pergunta que mais se foi feita nos mercados correlacionados nesta terça-feira.  

Contexto: dólar atingiu R$ 4,27 na máxima desta terça-feira

Nesta terça-feira, acompanhamos a disparada do dólar que atingiu o maior valor nominal em 25 anos, superando a casa dos R$ 4,27 na máxima do dia. Essa forte alta veio em resposta às declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes. Ele afirmou que a deterioração do câmbio não preocupa, já que os demais indicadores econômicos – como o IPCA controlado apesar da alta das moedas e as prévias do PIB mostrando retomada de aceleração – mostram expansão e que o corte de juros internos brasileiros estavam surtindo efeito.

Portanto, na declaração de Guedes, não haveria razão para qualquer intervenção do Banco Central no mercado.

Frente a essa declaração, o dólar seguiu sua escalada de forma acentuada, puxando as demais moedas para cima. 

Contudo, diferentemente da declaração de Guedes anteriormente, o Banco Central interveio duas vezes após o mercado ter esticado o dólar para R$ 4,27 no final da manhã e no meio da tarde 4,2770.

Após as intervenções a moeda recuou e fechou o dia em R$ 4,235. 

As intervenções do Banco Central devem seguram, por um lado, a escalada do dólar nessa quarta-feira, mas a moeda não deve cair de patamar. Ela ainda se ve pressionada pelo fluxo de capitais e pelo cenário externo que também é de indefinição. A cotação também será impactada pelos feriados de Ação de Graça nos EUA, que promete derrubar a liquidez do mercado.

Análise do momento

O cenário não está fácil. Após quase 19 meses de indefinições entre EUA e China, o que gerou uma desestabilização dos polos econômicos globais com as sobretaxas, presenciamos as crises em Hong Kong, Chile, Bolívia e Venezuela que impulsionaram as moedas emergentes para uma desvalorização. 

No ambiente doméstico, os posicionamentos do Ministério da Economia, na figura de Paulo Guedes, e as atuações do Banco Central, liderado por Campos Neto, imprimiram um ritmo a escalada do dólar. 

O posicionamento de Paulo Guedes foi muito mais na linha que os principais indicadores econômicos como a inflação, PIB e a geração de empregos, estavam alinhados com a expectativa de crescimento econômico brasileiro após os cortes na taxa básica de juros (SELIC).

A Selic teve seu primeiro corte em julho, e mais dois sucessivos esse ano, chegando novamente a seu menor patamar (5%).

Por outro lado, Campos Neto, frente ao Banco Central, instituição que busca cada vez mais sua independência, continuava de sobreaviso com o mandato de que o Brasil possui reservas suficientes para fazer uma intervenção caso fosse necessário.

O dólar já vinha se fortalecendo no ambiente internacional, porém, internamente, o mercado começou a testar as máximas e apostar para ver até onde a moeda poderia decolar. Isto forçou o Banco Central a executar dois leilões de câmbio ao longo do dia para “acalmar” o dólar. Mesmo com as intervenções, fechamos em nossa máxima nominal.

De forma geral, o posicionamento dos líderes da economia Brasileira é que estão buscando uma política econômica mais expansionista e focada no desenvolvimento do setor produtivo. Ele faz sentido quando os indicadores forem o aumento do PIB Brasileiro, eliminação do déficit fiscal, geração de postos de trabalho.

Para conseguirem estimular estes pontos, a mecânica que é usada é o corte gradual e consecutivo na taxa básica de juros, que desestimula o investimento no setor financeiro e estimula no setor produtivo, aquecendo a economia. 

Por outro lado, os juros muito baixos são pouco ou quase nada atrativos para os investidores internacionais. Ou seja, temos menos dinheiro entrando via investimento global para o setor financeiro.

Junto com isso, o câmbio acaba experimentando também suas máximas históricas: tanto por um contexto global de desajuste geopolítico e econômico, quanto por uma política mais expansionista que força a inversão da curva de juros e pressiona o real para baixo frente às demais moedas.

Conclusão: Câmbio com tendência de alta

Como Paulo Guedes afirmou “precisamos nos acostumar a uma taxa de juros baixa e a um câmbio alto”. Essa frase resumiu a política monetária e as metas que o governo tem daqui para frente.

O câmbio, enquanto não gerar uma pressão inflacionária para as importações e influenciar nos preços, estará em segundo plano.

Nesse momento entra o Banco Central com intervenções pontuais que serão feitas quando necessárias para tentar ajustar o dólar em momentos de escalada abrupta.

Contudo,  o contexto é de alta e pauta o ritmo de que continuaremos experimentando as máximas do dólar nos últimos anos, o que pode ser extremamente favorável para nosso setor exportador, favorecendo a balança comercial Brasileira.

Raíssa Florence é Head of Sales na Remessa Online

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