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Peso argentino: Argentina muda política cambial após pacto com FMI

Peso argentino

A mudança cambial na Argentina marca o início de uma nova etapa econômica para o país, em meio à turbulência provocada pela guerra tarifária de Donald Trump. A partir desta segunda-feira (14), o peso argentino passará a flutuar dentro de uma banda entre 1.000 e 1.400 pesos por dólar, atendendo a uma exigência do FMI para liberação de US$20 bilhões.

Entenda neste texto como funcionava o antigo regime, os ajustes econômicos acordados com o Fundo e o impacto esperado no câmbio, na inflação e na relação com o Brasil. Confira os detalhes e as projeções para os próximos meses.

Peso argentino: O que mudou no câmbio da Argentina?

A partir de hoje, a Argentina adota um novo modelo de câmbio, eliminando parte das restrições para a compra de dólares. Essa alteração foi uma das condições do acordo com o FMI para o desbloqueio de um pacote financeiro de US$20 bilhões.

Pela mudança cambial na Argentina, o dólar deverá oscilar dentro de uma faixa entre 1.000 e 1.400 pesos, com essa banda sendo corrigida a uma taxa de 1% ao mês. A proposta é dar mais previsibilidade ao mercado e reduzir a pressão sobre as reservas cambiais, em meio a um ambiente externo ainda pressionado pela guerra tarifária em curso.

Como era o regime cambial argentino e por qual razão foi abandonado?

Até a última sexta-feira, o país operava sob um sistema de crawling peg, que permitia a desvalorização gradual do peso argentino a uma taxa de 1% ao mês. No entanto, esse ritmo ficou muito abaixo da inflação local — que em março avançou 3,7% —, o que acabou sobrevalorizando o peso artificialmente.

Consultorias privadas apontavam, no fim de março, uma valorização cambial excessiva de até 50%. Para manter o câmbio controlado, o Banco Central argentino precisou queimar cerca de US$2,5 bilhões em reservas, uma estratégia insustentável diante das dificuldades fiscais e cambiais do país.

A mudança cambial na Argentina ocorre em meio à forte instabilidade nos mercados globais, provocada pela guerra tarifária imposta por Donald Trump a diversos parceiros comerciais, principalmente à China. Esse cenário de incerteza levou à desvalorização das moedas emergentes e quedas nos preços das commodities — incluindo os produtos agrícolas, responsáveis pela maior parte da entrada de dólares na economia argentina. Como reflexo, ações e bônus argentinos acumularam fortes perdas nos últimos dias.

O que o FMI exige da Argentina no novo acordo cambial?

Para garantir o novo empréstimo e sinalizar compromisso com o equilíbrio fiscal, o governo argentino aceitou uma série de exigências do FMI. Entre os compromissos estão:

  • Manter o déficit primário federal em 5% do PIB;
  • Apresentar uma proposta de reforma tributária até dezembro;
  • Modernizar a legislação trabalhista e flexibilizar negociações salariais;
  • Enviar ao Congresso, até 2026, um projeto de reforma da Previdência;
  • Reduzir os subsídios energéticos e concentrá-los apenas em famílias de baixa renda;
  • Otimizar os gastos sociais, com a criação de um Sistema de Indicadores Sociais até dezembro;
  • Liberar a compra de dólares para pessoas físicas, mantendo o imposto de 30% sobre operações no cartão;
  • Reforçar as reservas internacionais, com meta de US$4 bilhões em 2025 e US$19 bilhões até 2029;
  • Lançar um programa de privatizações a partir de novembro;
  • Atualizar a Lei de Ética Pública.

Quais as projeções para o PIB argentino em 2025?

Segundo o FMI, a expectativa é de crescimento de 5,5% para o PIB argentino em 2025, enquanto a inflação deverá ficar entre 18% e 23%. O superávit primário projetado é de 1,3% do PIB, embora o governo Milei tenha elevado a meta para 1,6%.

A projeção para os próximos anos indica um avanço gradual: até 2027, espera-se que o superávit primário alcance 2,5% do PIB e que a inflação recue para 7,5% ao ano.

Instabilidade no câmbio da Argentina: o Brasil pode sentir os efeitos?

Sim — a mudança cambial na Argentina e os efeitos da guerra tarifária de Trump podem ter reflexos diretos no Brasil. Uma recessão ou desaceleração econômica na Argentina reduz a demanda por produtos brasileiros, principalmente industrializados. 

Além disso, o cenário de incerteza global tende a pressionar as moedas emergentes, levando à desvalorização do real e a um ambiente inflacionário mais desafiador.

O que esperar do câmbio argentino no médio prazo?

A maior parte dos analistas prevê uma desvalorização gradual do peso argentino, com a nova reforma cambial Argentina. Ainda assim, a liberação gradual do câmbio e o reforço das reservas podem, ao menos, reduzir a volatilidade excessiva observada nos últimos meses.

Perguntas frequentes

Como será a mudança cambial na Argentina?

A partir desta segunda-feira, 14, a Argentina passa a operar com um regime de câmbio administrado dentro de uma faixa. O dólar poderá variar entre 1.000 e 1.400 pesos, com essa banda sendo reajustada a uma taxa de 1% ao mês.

Quanto o FMI emprestará à Argentina?

O acordo fechado entre a Argentina e o Fundo Monetário Internacional prevê a liberação de um pacote financeiro de US$20 bilhões.

Há restrições para economia argentina neste período?

Sim. Como contrapartida ao empréstimo e para assegurar a sustentabilidade fiscal e cambial, a Argentina assumiu uma série de compromissos com o FMI.

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